Oranna, Deusa da Lua
A quarta Deusa da Era Panteônica a nascer formaria a mais sólida aliança de seu tempo, prevenindo a destruição de dois povos na Era do Caos. É a divindade associada aos rios, à beleza e é também conhecida como a Deusa Casamenteira.
Origem
Nascimento e juventude (1.400-1.414 E.P.)
Na Era Pateônica, os karnadharas já haviam construído seu imenso Palácio de Safira, e Akan – a Grande Capital Azul – ainda era a maior cidade do continente no século XXV. Protegidos por Adros, o Primeiro Leviathan , não havia nada que pudesse frear o desenvolvimento e expansão do povo-do-mar, que já dominava toda a península a noroeste de Lemúria.
No ano 1.400 E.P., o povo-do-mar sofre o primeiro grande ataque em suas ilhas: três jovens dragões aparecem repentinamente em uma pequena ilha na parte leste da península, cuspindo fogo e destruindo templos, barcos e casas. Kuhana, a Quarta Serpente, enfrenta as bestas bravamente, matando uma delas, mas cai em batalha para o horror de seus protegidos.
A falta de atritos com outros povos ou com monstros não moldou muitos guerreiros ou magos combatentes entre os karnadharas. Com exceção de sacerdotes, poucos dominavam magia forte o suficiente para batalha. Além disso, as lanças, arcos e facas usados para pesca e outras atividades eram totalmente inadequados para a batalha.
As outras quatro filhas de Adros – Uraga, Zaya, Viloma e Visasya – surgem das profundezas para enfrentar as bestas, lançando suas mais poderosas magias. Mas já era tarde demais, a ilha havia sido destruída.
Percebendo a clara desvantagem, os dragões fogem covardemente com graves ferimentos, deixando para trás completa desolação. Dentre os inúmeros mortos, no entanto, havia uma sobrevivente: uma jovem grávida já à beira da morte que se arrasta para o corpo da serpente caída na praia, temendo não pela própria vida, mas pela de sua filha. Ao tocar no corpo da criatura, percebe que seu coração ainda pulsa e faz seu derradeiro pedido: “salve minha cria”.
Quando os karnadharas das ilhas vizinhas chegam ao local, só há fogo, cinzas e uma jovem já morta, segurando, entre si mesma a grande serpente, uma jovem e bela criança que dormia um sono tranquilo. Assim morreu Kuhana, e assim nasceu Oranna.
A criança foi levada para a ilha mais próxima e logo os sacerdotes notaram que as quantidades de energia em seu pequeno corpo não eram normais, parte da energia de da grande serpente com certeza corria no pequeno e frágil corpo da criança. Sem nenhum parente vivo e com um imenso potencial, Oranna foi adotada pelos sacerdotes, e criada em Akan, no Palácio de Safira.
Em sua infância, Oranna impressionou a todos: nas aulas e ritos, era gentil, meiga, cuidadosa e atenciosa. Nos treinos de magia, no entanto, era determinada, firme e focada. A pequena karnadhara cativava rapidamente a todos os adultos, mas nunca chegou a fazer nenhum real amigo dentre as crianças, eclipsadas pelo seu brilhante desempenho e pressionadas pelos sacerdotes a reproduzir os impossíveis resultados da futura deusa.
Aos quatorze anos de idade, no ano de 1.414 E.P., Oranna passa com louvor em seu teste de iniciação e torna-se oficialmente uma acólita de Oúne, dominando a magia elemental melhor que os maiores mestres. Depois de uma grande celebração, a jovem tem uma decisão a tomar: continuar no templo para tornar-se uma sacerdotisa ou sair de Akan rumo ao desconhecido.
Desde o ataque dos dragões, os cuidados dos karnadharas haviam aumentado: mais magos e mais marinheiros treinados no combate navegavam pela península. Mas era evidente que ainda não havia um exército pronto para enfrentar bestas do caos.
Como as histórias sobre o ataque de Ghor à Zhária eram de conhecimento dos karnadharas, Oranna sabia que seu povo não tinha condições de enfrentar dragões adultos sozinho, e decide fazer como seu Deus um dia fizera: aliar-se com o elemento terra. Sob protestos de todos os seus mentores, a jovem deixa sua morada em busca de sua missão divina.
Viagem a Edennia (1.414)
Oranna zarpa com outros cinco acólitos com quem treinara no templo e alguns marinheiros que apoiaram sua nobre causa. Saem da península e navegam para o sudoeste. Passam por mares violentos e infestados de monstros marinhos corrompidos, mas a forte magia elemental de Oranna protege a todos no barco antes mesmo que as bestas pudessem se aproximar.
O grande talento da jovem começa a despertar a inveja de seus companheiros de viagem, que percebiam a enorme diferença de poderes entre eles. Ao chegar nas terras de Edennia, os marinheiros continuam no barco enquanto Oranna e os acólitos adentram na mata e vão ao encontro de um grupo de batedores que viram seu barco se aproximar.
Uma das acólitas que viajara com ela, já farta do sentimento de inferioridade, toma subitamente a frente e apresenta-se como líder da expedição, demandando ver o xamã local. Para não prejudicar a imagem de seu povo com brigas internas, Oranna permanece calada e observa a cena.
Assim que o yoni responsável chega, a impetuosa karnadhara diz que gostaria de conhecer o mais belo jovem daquelas terras e casar-se com ele para, assim, unir os dois povos. O velho xamã percebe a intransigência do pedido e retruca que, para ter direito à mão do mais belo jovem, ela deve enfrentar a mais feroz das bestas: Banyan.
O grande felino foi um tipo de ancestral primordial das panteras atuais. Maior, mais forte, mais rápido e com certos poderes mágicos que apenas os xamãs de Edennia conheciam.
A farsante aceita o desafio e o xamã yoni os conduz à sua vila, onde começa os devidos ritos para a caçada. O jovem cuja mão fora prometida era Kayin, filho do líder da tribo local, e é chamado para assistir. Enquanto as preparações para o rito começam, a despreparada karnadhara pede ao xamã para que algum amigo o acompanhasse apenas para carregar sua lança, mas o yoni negou: a caçada era um contra um, e a caçadora que não conseguisse carregar a própria lança não era uma caçadora. Depois, a covarde pergunta à própria Oranna se ela não podia ajudá-la com sua poderosa magia, mas a karnadhara recusa-se.
Sem opções, a inepta acólita aceita seu destino e parte para a mata procurar Bayan. Mas em poucos instantes ficou claro quem era caça e quem era caçador, e a fera devora a minguada karnadhara rapidamente. Os outros quatro acólitos que acompanhavam Oranna ficam indignados e a culpam pela morte de seu colega: “se tivesse usado sua magia, ela poderia ter saído vencedora” diziam eles, e Oranna permanece quieta.
O xamã lamenta a morte da karnadhara, mas reforça que ela aceitara o desafio destarte. Oferece, então, que os visitantes descansem do longo dia e que, no dia seguinte, retomem as conversas sobre união entre os povos. Kayin observa todo o acontecimento sem nada dizer, fica apenas observando Oranna atentamente.
Durante a noite, no entanto, os outros karnadharas, revoltados com a morte de seu colega e incapazes de aceitar a liderança de Oranna, tentam assassiná-la covardemente. A karnadhara, no entanto, era extremamente perceptiva, e reagiu antes que seus agressores pudessem ter êxito, matando-os com sua poderosa magia.
Os yonis vêm rapidamente ao local do conflito e o xamã lhe diz que, em Edennia, estrangeiros só poderiam derramar sangue de caça, e que seu crime deveria ser punido com a morte. Oranna lamenta o ocorrido, mas entende que deve respeitar as leis locais: acompanha os druidas e batedores sem nenhuma resistência até chegar à beira de Odonla, o maior rio de Edennia.
Kayin, o belo yoni cuja mão fora prometida à acólita, roga ao xamã que não execute Oranna, pois “nunca antes vira tamanho poder e beleza em um ser”. O xamã permanece irredutível e saca sua adaga de pedra, mas assim que ele posiciona a lâmina no pescoço da karnadhara, tirando de sua pele a primeira gota de sangue, ela diz:
Se devo quatro vidas à Mãe-Terra, deixe-me pagar de meu próprio ventre, e consolidar a aliança que vim fazer.
Um dos yonis presentes então aponta atônito para a beira do rio: onde a gota de sangue de Oranna caíra, todos os peixes do rio se aglomeravam, como se irresistivelmente atraídos pela magia que corria na karnadhara. Um dos peixes então pula das águas, atirando-se diretamente na faca do xamã. O sábio homem reconhece os sinais que lhe estavam sendo apresentados e afasta-se de Oranna, dizendo-lhe que ela poderia escolher qualquer yoni para acompanhá-la.
A futura Deusa dos Rios então vira-se para Kayin e diz: “Sem este jovem me quer, tê-lo-ei”. E assim, iniciou-se uma forte aliança entre karnadharas e yonis: Oranna e Kayin teriam, na década seguinte, dez filhos cujos descendentes povoaram o que hoje é parte sul do continente lemuriano.
Os filhos de Oranna e Kayin nasceram todos gêmeos: sempre um menino e uma menina. Cada um dominando um elemento de um dos pais.
Julgamento e morte (1.427)
As famílias dos acólitos mortos por Oranna em Edennia permanecem revoltadas com sua impunidade. Apesar de ter consolidado uma forte aliança, Oranna havia assassinado seus pares e não respondera pelo ato. Os sacerdotes de Akan estavam relutantes em convocar sua melhor discípula para um julgamento que poderia terminar em morte, mas depois de anos de postergação, Oranna é chamada de volta a Akan para responder pelos seus crimes.
Sem protestar, a karnadhara despede-se de sua família e volta ao lugar onde fora criada e treinada há tanto tempo, e é recebida com júbilo por uns e revolta por outros. Ao chegar no templo, os sacerdotes lhe oferecem uma chance para explicar as circunstâncias do ocorrido, mas Oranna simplesmente responde que não se arrependia do que fizera, enfurecendo ainda mais aqueles que acreditavam em sua culpa.
O julgamento se inicia e todos os karnadharas de Akan aglomeram-se ao redor do templo querendo saber o destino da notória acólita. Durante horas, as portas do templo permanecem fechadas, e todos teorizam e conjecturam sobre qual, afinal seria o veredicto dos sacerdotes.
Ao final do dia, o Grão-Mestre do Templo abre as portas e anuncia: Oranna era culpada e fora sentenciada à morte. O povo ficou em choque, até mesmo aqueles que diziam torcer por tal veredicto. A karnadhara foi conduzida da porta do templo pelos sacerdotes em meio a uma multidão catatônica, que parecia arrependida de todo o processo. Os próprios sacerdotes pareciam tomados pela angústia e pouco convictos de sua própria decisão.
A caminhada de Oranna até a Cascata de Yuká foi silenciosa. De cabeça erguida, a karnadhara caminhava sem hesitação alguma, ao contrário de todos a sua volta, incluindo aqueles que votaram por sua execução. Ao chegar no topo da gigantesca cachoeira, ela mirou em volta uma última vez, e até mesmo as famílias que tanto desejavam sua morte desviaram-se de seu intenso olhar.
Antes que o Grão-Mestre pudesse proferir sua sentença em voz alta. Oranna simplesmente pula em direção ao seu fim sem aviso algum, deixando seus algozes com a estranha sensação de que todo o julgamento fora uma frivolidade, e de que a karnadhara escolhera há tempos o momento e circunstâncias de sua morte.
Domínios e valores
Deusa da Lua
A luz prateada guia, protege e revela, sem nunca queimar. Sábio é aquele que reconhece seus sinais, desnuda seus mistérios e percebe seus segredos.
Protetora dos Rios
A vida prolifera e prospera onde a água segue seu curso, alternando entre ferocidade e brandura. A água purifica, renova e nutre, mas mão que dá é mão que tira.
Emissária Casamenteira
A união faz a força, e não há força maior que a união perante os Deuses. Toda a comunhão entre almas representa o enfraquecimento do caos, pois a soma das partes é maior que o todo.
Children