Uma noite de relâmpagos

As seen in
by Henrique Albert
Castelo Kilenstern, Elisburg     Elisburg, 1303   Relâmpagos cortam a noite. O vento forte carrega folhas e poeira para todos os lados. As pessoas nas ruas abaixo se apressam para se abrigarem antes da tempestade. Indiferente à confusão a sua volta, ele apenas observa a torre mais herma do castelo, acessível apenas pelo estreito adarve onde ele aguarda.   -Senhor Brynjolf – chama um de seus homens de trás da porta a suas costas – Sei que pediu para que todos se retirassem desta ala do castelo, mas tenho a obrigação de informá-lo que durante tempestades nenhum guarda fica a postos nesta ponte. Não desde que um raio tirou a vida de um deles aqui há pouco tempo.   -Eu sei disso. E por isso você não deve ficar... – Brynjolf é interrompido pelo som ensurdecedor de um trovão que reverbera pela estrutura, um raio deve ter atingido outra parte do castelo, e, após o estrondo, o som de botas descendo correndo as escadas foi o sinal de que finalmente o último de seus homens havia deixado esta ala.   Não demora muito para a chuva começar. Rajadas de vento começam jogar a água violentamente sobre ele, porém lá ele permanece, imóvel. Seu olhar travado na porta da torre.    Após outro trovão, os gritos começaram. Com todo o caos da tempestade, poucos conseguiriam ouvir os gritos, mas para sua agonia, ele os ouvia claramente e, além disso, ele ouvia os clamores dela para que isso parasse, mas em vão, pois os gritos e os clamores apenas se intensificavam. A agonia crescia ao mesmo tempo que a tempestade piorava, mas o tempo parecia parado, preso naquele momento interminável. Os clamores começaram a transformar-se em súplicas para que Hekat a levasse, terminasse com aquele sofrimento.   Brynjolf permanece lá. Imóvel. Porém, agora seus punhos estavam cerrados, cada vez com mais força, cada segundo com mais raiva, até que suas unhas começaram a entrar em sua pele. Mais um grito. O clamor por ajuda agora tão doloroso e desesperado, que o impeliram a andar na direção da porta inconscientemente. Ele se segura, e vira as costas para a torre.   -Nox! – ele grita - Isso é minha culpa e eu sei disso! Mas por quê? Por que ela? Deveria ser eu amaldiçoado, não ela!   Apoiando-se no parapeito, ele cai de joelhos. A chuva jorra por seu rosto, gelada. A dormência da água fria, apenas acrescentava a sensação de que aquilo era um pesadelo, interminável. Ela grita e ele grita, finalmente o fazendo perder o controle. Impulsivamente ele levanta-se correndo em direção à porta da torre e invade local e lá, ele a vê joelhada ao centro da torre, seus cabelos negros encobrindo totalmente sua face. Suas mãos, agarradas ao chão, sangram pela força que ela faz, como elas a segurassem de cair em um abismo. A sua volta símbolos arcanos e objetos ritualísticos de aparência macabra tornam a cena ainda mais perturbadora.   -Marly!   -Brynjolf, não! – ela levanta sua mão, como se fosse impedi-lo de entrar, mas ao fazê-lo um arco de energia pura dispara de sua mão em direção a ele.   Em uma velocidade surpreendente, ele salta para sair da direção do arco, mas em vão. A energia curva-se instantaneamente e o alcança no mesmo instante, jogando-o contra a parede com violência.   Marly corre até ele, mas antes de chegar nele, ela hesita. A energia ainda pulsa em arcos, correndo por ele e pela parede. Ela olha para suas mãos, com medo de que outro arco de energia saia contra ele, mas ela não sente nada, nem mesmo a dor agonizante de segundos atrás.   Brynjolf tosse e se contorce no chão. Marly se joga de joelhos e coloca a cabeça dele sobre seu coloco. Os cabelos molhados dele enxarcam seu vestido – me desculpa Bry! Por favor, por favor! – Ela chora enquanto se agarra a ele – por que você entrou aqui? Ela avisou você! – ela se engasga com seu choro - Acorda por favor! Não me deixa sozinha, você é tudo que tenho...   Brynjolf coloca a mão no rosto dela e ela finalmente percebe que ele a está acordado olhando para ela.   -Você está bem?!   -Eu não – a tosse o interrompe – eu não diria que estou bem – ele sorri para ela.   -Por que você entrou?! Você poderia ter morrido! – realizando o ocorrido ela se levanta desajeitadamente com pressa, derrubando Brynjolf novamente no chão.   -Aí!   -Você é louco? Nós tínhamos um acordo! Pela primeira vez isso ocorre sem a Sada por perto e é isso que você faz?! – com a voz alta e trémula, ela começa a caminhar de um lado para o outro do claustrofóbico cômodo da torre.   Brynjolf levanta-se com dificuldade – Isso não importa.   -O que?!   -Isso não importa.   -Como assim?   -Você está bem agora – Ele a segura pelos ombros e olha em seus olhos – isso é tudo o que importa.   Neste momento, com o olhar fixado um no outro, finalmente o mundo em volta silencia. Eles se aproximam lentamente e se beijam. Rapidamente, aquele o beijo se intensifica e inflama eles. Brynjolf a encosta contra a parede e Marly começa a arrancar as roupas molhadas dele enquanto ela a beija apaixonadamente. Ambos são levados pelo ardor do momento, eles perdem a noção de quanto tempo se passou.   Exauridos no chão eles permanecem em silêncio até Marly finalmente falar – Por Nox, o que nós fizemos?! Bry você é como um irmão para mim! – Ela se levanta apoiando-se contra a parede, ainda exausta, mas agora desesperada por outro motivo.   -Marly, há um tempo eu tento te dizer isso. Eu não te vejo como uma irmã.   -Como assim?! Nós fomos criados juntos! – Sua voz exaltada, mas ainda sem folego.   -Sim. Mesmo assim, eu não consigo parar de pensar em você.   -Eu também não consigo, mas é porque eu te vejo como irmão – ela começa a se arrumar.   -Irmãos não fazem o que fizemos.   -Justamente Brynjolf! Nós não deveríamos ter feito e isso foi um erro! Você não deveria ter entrado aqui – ela diz com raiva saindo da torre.   -Marly, não vá. Nós precisamos conversar.   Ela não olha para trás e sai da torre em direção ao castelo.


Cover image: by Henrique Albert