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Ato - 1 - A chegada do druida

  • Depois de dias caminhando Asfar finalmente chegou à cidade de Balts, era sua primeira vez ali. Observou cada detalhe com a curiosidade de um recém-nascido enquanto adentrava os portões principais, duas gigantescas estruturas de mármore que se erguiam imponentes. Em cima de cada uma delas havia um guarda humano vestindo uma armadura prateada que reluzia com os raios de sol. Os guardas doavam sua energia para um tipo de esfera presa ao pilar que através de magia criava um escudo ao redor dos muros da cidade.
  • Encostado em uma das paredes interiores da muralha que cercava a cidade estava o quartel-general da guarda de Balts , ou pelo menos era o que estava escrito na placa acima da estrutura. Asfar continuou caminhando pela perfeitamente pavimentada estrada principal, haviam centenas de pessoas andando de um lado para o outro, seres de todas as raças. Entretanto, a maioria das lojas e casas eram ocupadas por humanos enquanto as outras espécies andavam na rua parecendo tão impressionadas com a cidade quanto ele, quase como se fosse a primeira vez deles ali também.
  • Balts era um lugar muito restrito a forasteiros, ainda assim, a necessidade de realizar comércio fez com que um dos arquimagos que um dia comandou a cidade criasse um caminho conhecido como “A estrada dos visitantes”. Começava em um dos portões da cidade, passava pelo mercado principal e terminava no porto. Assim, qualquer pessoa poderia comercializar sem necessariamente adentrar as ruas da cidade.
  • Asfar parou de pensar na cidade por um momento e focou no porquê de ter ido para lá. Não havia passado muito tempo desde que ele criara um protótipo de máscara que reduzia o contágio de doenças pelo ar e os distribuíra no vilarejo de Samwer, ao leste de Balts. Lá encontrou um velho viajante chamado Muhammed Cooke, um homem de cabelo curto e barba trançada que lhe contou sobre Balts e o convenceu a ir até à cidade aprender mais sobre magias de cura e formas de se lidar com doenças em uma organização conhecida como “Os Magos da liberdade”.
  • Muhammed, no entanto, estava apressado e não lhe disse onde em Balts ele poderia encontra-lo, sendo assim ele decidiu pedir informações para alguém. Asfar olhou à sua volta e encontrou um golias magrelo de frente para uma loja de poções.
  • — Boa tarde, com licença, você saberia me informar onde se encontra a sede dos magos da liberdade? — Perguntou educadamente para o homem.
  • — Sim. — Disse o golias carrancudo — É aqui perto, eu só tenho que terminar de fazer algumas compras e depois posso te levar lá. Se você quiser aproveitar esse tempo no mercado… — O golias estava meio receoso ao conversar com um homem que tinha uma caveira de dragão envolta da cabeça, mas Asfar usava-a com tanta frequência que já nem se lembrava mais de sua excentricidade. — Eu tenho alguns assuntos para resolver, me encontre por aqui.
  • Asfar agradeceu ao golias e seguiu em direção ao mercado, procurando por pessoas que precisassem de ajuda. Avistou um homem impecavelmente arrumado, de cabelo liso, marrom, jogado para o lado e que estava tendo dificuldade para carregar uma caixa abarrotada de poções.
  • — Boa tarde, você gostaria de ajuda? — Perguntou ele já segurando a caixa.
  • — Ah! Por favor! — Respondeu o homem largando a caixa na mão dele. Depois se virou e foi pegar mais delas, haviam dúzias em uma carroça ali perto. — Pode ir levando prali. — Disse ele quase cuspindo e apontando para uma loja chamada “Paixão por poção ”.
  • Asfar sorriu satisfeito por baixo da máscara, tinha prazer em ajudar os outros, talvez porque nos momentos em que esteve mais sozinho sempre encontrou alguém que lhe estendesse a mão. Porém, logo em seguida, ele tropeçou e a caixa se espatifou no chão juntamente com as poções. As misturas tomaram várias cores e algumas até soltaram fogo ou raios. Por sorte elas não chegaram a machucar ninguém. Asfar coçou o cabelo ruivo e esvaziou os bolsos, mas só conseguiu encontrar dez parcos de bronze, mesmo assim os ofereceu para o homem que o retribuiu com um olhar triste.
  • — Foi mal, cara, é tudo o que eu tenho. — Disse o homem ruivo
  • — Não, não… Deixa pra lá, pode ficar com você — Respondeu ele tentando não mostrar o descontentamento. — Só… Deixa que eu carrego o resto. — Em seguida voltou ao seu trabalho.
  • Asfar chateado continuou seu caminho pelo mercado da cidade, viu lojas de itens mágicos, poções e cajados, mas acabou indo na loja de ervas para magia.
  • — Boa tarde. — Disse a mulher atrás do balcão enquanto coçava o nariz. — Do que você precisa?
  • — Eu gostaria de algumas folhas de teixo. — Respondeu prontamente. Elas eram essenciais para usar uma de suas magias de druida e ele sempre levava algumas consigo, mas seu estoque tinha acabado.
  • —Ok. São cinco parcos. — Ela buscou seis folhas no interior da loja e após receber o dinheiro perguntou. — Vai querer mais alguma coisa?
  • —Não, muito obrigado. — Falou o druida, queria voltar para encontrar o golias, provavelmente ele já teria terminado suas compras.
  • Entretanto, apesar de seus esforços ele não conseguia encontra-lo, havia muitas pessoas na estrada principal e o lugar parecia ficar cada vez mais lotado. Com pressa em sair do local, Asfar pegou um pergaminho de sua mochila e rasgou um pedaço para escrever um bilhete.
  • “Obrigado.
  • Não preciso mais da sua ajuda.
  • Parti para explorar a cidade.
  • Asfar
  • Deixou o bilhete na bancada da loja de poções e entrou por umas das ruas transversais à estrada principal. A pavimentação foi ficando pior sendo o chão as vezes coberto somente por terra. Em uma das ruas avistou um casarão extremamente grande, mas de um único andar, na frente havia um portão e acima dele uma plaquinha onde se lia “Magos da liberdade”. Era esse o lugar sobre o qual Muhammed havia lhe falado, disse que Asfar se encaixaria bem ali.
  • — Com licença. — Disse ele batendo na porta. Logo em seguida um Anão abriu-a, ele tinha a barba e o bigode, espessos e o cabelo cinza. — Boa tarde, eu sou o Asfar. Fui recomendado a vir para cá pelo Muhammed Cooke.
  • — Tudo bem. — Ele parecia meio desconfiado com a máscara de crânio de dragão. — O Muhammed não tá na cidade agora, mas você pode ficar aqui com a gente até ele chegar.
  • — Muito obrigado, senhor. Você poderia me apresentar o local? — Falou Asfar sorrindo, mas o anão não pareceu gostar muito da ideia e bufou enquanto cruzava os braços musculosos. — Ou você está muito ocupado? Se não, não tem problema, eu espero.
  • — Posso sim. — respondeu por entre os dentes.
  • — Ah, Sim! Muito obrigado! — Agradeceu Asfar enquanto o anão abria a porta e o guiava pelo local. A sede da Associação dos Magos da Liberdade, ao contrário do que se poderia esperar, não era um lugar muito chique, apesar de ser melhor que uma estalagem mediana.
  • — A magos acolhe as pessoas da cidade que sofrem com o preconceito por não serem humanas e as treina em magia, já que o preconceito também é muito forte na Academia de Artes Mágicas de Balts — Eles passaram por um longo corredor e o anão foi apontando os lugares importantes da instituição. — Aqui é onde estudamos a parte prática… Aqui à esquerda tem uma biblioteca e mais atrás são os aposentos dos alunos e professores. — Ele parou em frente a um hall e esperou pela reação do druida.
  • — Muito obrigado pelo seu tempo. Eu sou Asfar. Você é o?
  • — Eu sou Bandek Gokkrum — Respondeu analisando a máscara de dragão com o olhar.
  • — Muito obrigado. Eu vou esperar na biblioteca.
  • — Sem problemas. Estarei aqui.
  • Asfar foi ler na biblioteca e procurando se informar sobre a cidade começou a ler o livro “Humanoides, magos e bullying. Um ensaio sobre Balts".
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