Há uma boa razão para um dos títulos da deusa Mystra ser “Nossa Senhora dos Mistérios”. A maioria das pessoas nos Reinos acredita que os “mistérios” se referem à própria magia, a Arte que é um mistério para aqueles que não têm o dom (capacidade natural inata) de manipulá-la, e uma rica e infinita cornucópia de mistérios (isto é, conhecimento oculto e desconhecido que deve ser conquistado através da experimentação) para aqueles que o fazem.
Tudo isso é certo e verdadeiro, mas existem outros mistérios também. Eles, às vezes, são chamados de “os mistérios mais profundos” ou “os mistérios mais elevados” pelos sacerdotes, sábios e magos tutores que estão tentando parecer grandiosos. Isso inclui a compreensão da natureza essencial de várias criaturas, dos próprios deuses e das caças ao tesouro que Mystra e Azuth gostavam de criar para seus fiéis mais fervorosos. Enquanto o deus Savras gostava mais da magia capturada e moldada por itens encantados, Azuth se agarrava ao feitiço, e Mystra, acima dele, abraçava tanto os itens quanto as conjurações.
Uma das caças ao tesouro de Azuth diz respeito à “Magia Perdida”, algo contado em vários contos selvagens (e contraditórios), mas entendido corretamente por muito poucos mortais.
Os Escolhidos de Mystra estão, obviamente, entre aqueles que entendem, e é a partir das conversas de Alustriel em Lua Argêntea com os magos dela em quem ela mais confia, que sabemos os detalhes da Caçada pela Magia Perdida.
Azuth criou esta magia e escondeu fragmentos dela em muitos livros de magia que ele fez com que fossem espalhados pelos Reinos.
Cada fragmento é uma linha ou dístico de um encantamento, acompanhado por um glifo que seria desenhado em uma das mãos do conjurador com os dedos da outra mão deste, enquanto a parte do encantamento era pronunciada em voz alta (em vez de escrita ou inscrita).
Quando todos os fragmentos da magia são reunidos e colocados na ordem correta, e de acordo com Alustriel, algumas sequências de ordenação são óbvias para qualquer um que possa falar ou ler Comum, enquanto outras não são óbvias e devem ser descobertas por experimentação. Alustriel se refere às histórias que dizem que a pele do conjurador brilha brevemente, e uma pequena nuvem de fumaça azulada sai das mãos e da boca deste quando a magia “apaga”, indicando a ordem correta.
Nem Alustriel nem qualquer outro Escolhido confirmará quantos fragmentos existem nos Reinos, mas ao longo dos anos, a maioria dos sábios têm concordado que existem dezesseis fragmentos, e todas as fontes afirmam que há, pelo menos, doze.
As lendas sustentam que a Magia Perdida pode ser descoberta um número infinito de vezes, mas apenas uma vez por conjurador, e que se algum dos fragmentos for destruído ou alterado, Mystra e Azuth saberão, e farão com que um fragmento substituto passe a existir em algum livro em algum lugar dos Reinos.
Ostable de Athkatla, nos últimos anos, e Sememmon dos Zhentarim, nos dias passados, estão entre os magos que alegaram ter possuído e lido grimórios por anos antes que um fragmento da magia aparecesse lá um dia, sem que o livro fosse perturbado ou que sequer percebessem, até que descobrirem em uma página anteriormente em branco, ou até mesmo escrita sobre parte de uma magia já existente, mas em uma tinta de tonalidade contrastante, em outra ocasião em que abriram o tomo.
A Magia Perdida tem um efeito: ela concede uma segunda vida. Ou beneficia o conjurador ou o conjurado, fazendo isso imediatamente (se a morte ocorreu ou está acontecendo) ou no futuro.
O que a magia faz?
Na maioria das vezes, o conjurador se beneficia. Quando, em algum momento futuro, eles morrem, prontamente voltam à vida, saudáveis e inteiros, isto é, com todas as feridas e doenças curadas, pedaços faltando restaurados, envenenamento desaparecido, maldições encerradas, e com pontos de vida completos em um local e em condições onde eles não serão imediatamente mortos novamente. Assim, os que respiram oxigênio não aparecerão no fundo do mar, os aventureiros não voltarão às mandíbulas ou ventre do dragão, ou para o interior do cubo gelatinoso, e assim por diante.
Além disso, eles reaparecem sem obstruções (livres de correntes, jaulas e outras restrições), com um minuto inteiro de “tempo congelado” (semelhante a um parar o tempo) em que podem fazer coisas, exceto cada ser e item ao redor deles, que estão congelados no meio do movimento. A magia os torna conscientes do tempo que têm. Normalmente, conjuradores usam isso para preparar armas, fugir ou apenas para se posicionar melhor. O minuto termina abruptamente e prematuramente no instante em que atacarem outra criatura viva ou usarem um item mágico ou terminarem de conjurar outra magia.
Todas essas condições e benefícios pertencem a um conjurado aproveitando os efeitos da Magia Perdida, no futuro. A única diferença entre um conjurador e um conjurado é que um conjurador morto obviamente não pode conjurar a Magia Perdida em si mesmo, mas pode conjurá-la com sucesso em um “recipiente” morto, se puder tocar em alguma parte desse conjurado, mesmo que seja um fio de cabelo ou gota de suor presa a um item que esteja separado do corpo do receptor a uma grande distância, parte de um conjurado que foi separado por muito tempo de si (como um dedo decepado preservado ou um punhado de aparas de unha) ou um fragmento de um conjurado cujo corpo foi dividido e espalhado.
Nenhuma salvaguarda se aplica; a Magia Perdida sempre funciona. Somente uma vez por conjurador
Concebivelmente, um determinado indivíduo poderia receber qualquer número de Magias Perdidas conjuradas por outros, e se eles forem conjuradores, também podem conjurar um por si só, mas ninguém, exceto os deuses, sabem se alguém já se beneficiou de múltiplas Magias Perdidas. E neste momento, como em muitos outros, os deuses não estão falando.
A resposta de Elminster, quando perguntado diretamente sobre o assunto, foi: “Nossa, que clima maravilhoso os Picos das Tempestades têm oferecido esta última semana! E as batatas, este ano, estão em uma safra excelente que fará as carroças gemerem sob o peso do que estão carregando!“.
A Caçada
Sendo a natureza humana (e élfica, anã e assim por diante) o que é, qualquer um conhecido por possuir um fragmento da Magia Perdida lamentavelmente, porém inevitavelmente, se torna um alvo de roubos ou ataques diretos. Assim, mentiras são muitas (“Qualquer sugestão que eu tenha tal coisa é ridícula e totalmente imprecisa, mas meu inimigo, Tasagundar, agora, tem dois fragmentos, eu sei que você sabe!“) e as verdades são fugazes, já que magos se escondem ou se livram de livros rapidamente depois que se tornarem conhecidos como os proprietários de um fragmento ou dois da magia. Alguns até mesmo fingiram suas próprias mortes e assumiram novos nomes e identidades para escapar do eventual assédio.
Muitos magos desfiguram ou rasgam páginas relevantes de livros que eles acham conter fragmentos da Magia Perdida (seja para esconder o fato que eles têm dos outros, ou para negar os benefícios da Magia Perdida a magos rivais), ou que contêm “escritos mágicos estranhos que apareceram de repente, do nada” (sobre o princípio geral de que tais coisas devem ser perigosas, talvez uma maldição proferida de longe, ou o primeiro estágio de uma ameaça oculta daquele livro que progredirá se não for controlada).
Dito isto, Deneir e Oghma estão tão interessados em livros de sabedoria arcana quanto Mystra e Azuth, portanto dois livros de certos tomos no Forte da Vela que são reconhecidos por conter conhecimentos, e o livro de pedra esculpido que se assemelha a uma grande estátua na Caverna do Encadernador no nordeste das Montanhas Caminho do Gigante, são magicamente renovados e tornados inteiros novamente sempre que danificados, e magicamente retornam aos seus locais se forem roubados e levados. Estes livros podem ser considerados pedaços da Magia Perdida que são garantidos a todos, sendo três partes diferentes do feitiço que se repetem em muitos outros lugares. Um deles é considerado por muitos sábios a primeira parte da Magia Perdida e é a seguinte:
Um encantamento que diga “Hathaero delaerlith aumraunro slareed/No momento da minha maior necessidade” acompanhado por um símbolo que nós, observadores do mundo real, descreveríamos como um círculo preenchido pelo que poderíamos chamar de notas musicais agudas (se tivermos inclinação musical para reconhecer), o símbolo de numeral (se nós tivemos que pressionar botões em um telefone para inserir algo automaticamente), ou a “hashtag” (para aqueles de nós que fazem uso das mídias sociais). Os movimentos diagonais para cima e para baixo do símbolo tocam, mas não cruzam o lado interno do círculo, e primeiro desenha-se o círculo, depois os dois traços para cima e para baixo são desenhados da esquerda para a direita e de cima para baixo. Os traços cruzados horizontais são colocados da esquerda para a direita e os primeiros para cima. Depois disso, o círculo é desenhado uma segunda vez precisamente sobre o primeiro.
Este primeiro fragmento é registrado como estando na metade inferior de uma página direita cuja metade está em branco, perto do meio de um tomo na biblioteca do Forte da Vela, conhecido como Compêndio de Darender Sobre os Magos Notáveis em Tethyr (também se especula, ou várias vezes foi especulado, que ele também exista em pelo menos sessenta outros livros através de toda Faerun). O outro livro do Forte da Vela conhecido por conter um fragmento da Magia Perdida é o Antigas Famílias de Mulmaster por Lalruth Morldrym, escrito em 1332 CV, mas a natureza do fragmento que ele contém mudou de tempos em tempos, ou as notas de vários sábios contêm desinformação deliberada.
A caça à Magia Perdida tem acontecido, secretamente e apenas entre alguns magos de cada vez, desde 1102 CV ou antes. No início dos anos 1400 CV, a busca pela Magia Perdida saiu drasticamente de moda à medida que o medo e a desconfiança de todas as magias chegou ao auge, mas uma crença surgiu em 1460 CV que a Magia Perdida poderia oferecer grande poder aos magos, tornando a magia que eles conjuram potente de fato. Por volta da década de 1470 CV, a caçada foi generalizada e continuou, com muitos magos matando conjuradores rivais. Entretanto, recentemente, ela diminuiu ou foi minimizada novamente.
No entanto, como Elminster adverte: “Não se pode confiar que os procedimentos que ficam em silêncio também se tornaram raros, ou em hiato, ou mais seguros. O oposto é, geralmente, o mais verídico“. Ele notou que muitos dos mais ousados “magos ruins” podem ser encorajados porque confiam que a Magia Perdida os ajudará a salvá-los da morte. Uma vez, pelo menos.
Há até mesmo rumores de uma sociedade secreta, ou clube exclusivo, de magos formados em Amn, que se reúnem em Águas Profundas, Amn e Sembia, que se autodenominam de Já-Mortos, e trabalham juntos em negócios associados (como contratar aventureiros para recuperar magias antigas de tumbas e da Umbreterna) ou frustrar os inimigos que têm em comum.
Elminster adverte que conversas sobre os Já-Mortos estarem produzindo falsos fragmentos da Magia Perdida para confundir os outros que buscam juntá-los, são verdadeiras. Ele observou que obrigar um membro dessa sociedade a fornecer o verdadeiro e completo fragmento da magia pode ser a melhor maneira de obtê-lo.
Obviamente, permanece o desafio de como administrar essa compulsão…
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