Aziri, Deus dos Ceus
Dentre os muitos feitos de Aziri, o mais impressionante certamente foi o de realizar sua apoteose ainda vivo. O Monge dos Cinco Ventos foi o único mortal na história do mundo a se tornar um Deus sem precisar morrer para fazê-lo. Talvez isso explique o fato de que, ao contrário da maioria de dos deuses de sua geração, seus ensinamentos, seguidores e templos continuam tão fortes hoje quanto na Era em que viveu.
Origem
Nascimento e infância (2.058 a 2.069 E.P.)
A história do Deus dos Céus começa, naturalmente, em Wayrur, a ilha na qual Ambara fez todas as suas criações. Aziri nasce num vilarejo de agricultores em aos pés de Killari, o Primeiro Templo anilla a ser construído ainda na Era da Gênese, e que, com o passar do tempo, criara em torno de si uma comunidade de agricultores. Os pais de Aziri viviam cultivando grãos e vendendo killas, as supervalorizadas flores-da-montanha que começavam a movimentar a ainda insipiente economia local.Hoje em dia, é raro encontrar plantas com alguma concentração de mana fora de florestas yoni, a pouca flora mágica que sobreviveu à descoberta da magia arcana na Era do Caos apresenta baixíssimos níveis de mana. Entretanto, as killas são detentoras da magia mais forte depois da Árvore da Vida, encontradas apenas em lugares de dificílimo acesso.Ataques piratas, no entanto, abalam profundamente a estrutura pacata dos locais, deixando mortos e feridos que sobrecarregavam os curandeiros do Templo e enchiam as casas dos agricultores. Não havia mão de obra suficiente para cultivar, buscar ervas medicinais nas montanhas e cuidar das vítimas. Neste quadro desolador, entre os mortos, estava o pai de Aziri; entre os feridos, a mãe. Por carregar uma criança, a mulher teve prioridade para ser tratada no templo lotado, e os monges fizeram de tudo para salvá-la, mas a jovem não resistiu ao parto. Ao nascer o jovem anilla não respirava, abria a boca com feições distorcidas de dor e agonia, mas nenhum som saía. Neste momento, uma arara negra voou pela janela do templo e bateu fortemente suas asas sobre o infante, que inspirou profundamente e pôs-se a chorar.
Araras negras são as ancestrais de todos os tipos de araras que conhecemos hoje, portadoras de vastas quantidades de energia mágica, são animais majestosos e quase sempre relacionados a acontecimentos divinos. Acredita-se que ainda existam no topo dos mais altos templos anillas, mas nenhum acadêmico jamais viu uma em nossa era.Apenas uma palavra poderia descrever Aziri em sua infância: disciplina. O jovem levantava-se, deitava-se, comia e até brincava em horários tão rigidamente regulares que muitos mestres podiam acertar sua própria rotina com base no garoto. Nunca faltou a um treino, nunca desrespeitou um mestre, nunca falhou em um teste. Aziri terminou, aos 11 anos, o treino para acólitos que costuma durar até os 14, pois seus mestres não tinham mais nada para lhe ensinar. Para o espanto de todos em Killari, no entanto, o jovem anilla escolhe deixar o templo e voltar para a fazenda de seu pai. Não demonstrava qualquer interesse em tornar-se templário e, apesar da profunda decepção que causou em seus mestres, Aziri era um jovem livre e, assim, voltou à vila onde nascera.
Vida na fazenda e a chegada de Orfeu (2.069 a 2.074 E.P.)
Aziri voltou a plantar no mesmo lugar onde seu pai o fazia. Estabelecera uma rotina tão rigorosa de plantio e colheita que sua fazenda logo começou a produzir quantidades assombrosas de comida. Seus vizinhos, admirados com a abundância, lhe disseram para vender o excedente, e assim o jovem o fez. Não sabia, no entanto, o que fazer com tanto dinheiro, então o distribuía para os menos afortunados nas fazendas vizinhas. Aziri logo tornou-se imensamente popular e querido por todos na vila e nos portos de Wayrur. O jovem com uma vontade inabalável que plantava sozinho mais que dez vezes o suficiente para se sustentar e usava o excedente para ajudar os mais pobres virou uma história que começou a atrair pessoas de outras vilas e até alguns viajantes que vinham de Karonte. O jovem anilla, no entanto, não era bom de conversa ou muito sociável, ria discretamente, interagia pouco e não parecia disposto a contar histórias em frente a uma fogueira para muitas pessoas, recebia visitas por um tempo breve e logo dizia, sem nenhum rodeio, que tinha que voltar ao trabalho, onde parecia muito mais confortável e focado do que quando estava entre outras pessoas. E assim foi durante anos, até a chegada de Orfeu. Em uma embarcação vinda no norte de Lemúria, desembarcam vários humanos mercadores, bardos e viajantes ávidos para conhecer os lendários templos de Wayrur. Entre eles, está um jovem humano fascinado pela cultura monástica e ávido para aprender com os melhores mestres anillas: Orfeu. Anillas templários, no entanto, só treinavam outros anillas, e essa informação raramente era enfatizada o suficiente para os aventureiros humanos que conseguiam chegar até a longínqua Cordilheira das Auroras. Orfeu foi um desses jovens que se decepcionou profundamente ao ver as portas dos templos fecharem diante de si sem ter ao menos uma chance de sequer tentar provar o seu valor. Abatido e desesperançoso, desce das montanhas em direção ao porto, mas antes para na fazenda do tão famoso anilla fazendeiro, que plantava por dez pessoas. Há diversas versões sobre como teria sido o primeiro encontro entre os dois, em algumas histórias, Orfeu apoquenta Aziri com perguntas intermináveis sobre a vida na fazenda até que o anilla desiste de se concentrar no trabalho para lhe dar atenção. Há versões em que Orfeu se oferece para ajudar, mas trabalha tão mal que Aziri tem que ensiná-lo a mexer com a terra. De qualquer modo, Orfeu parece ser nas histórias um jovem descontraído, simpático e comunicativo, que consegue enfim quebrar a grossa barreira que o jovem anilla parecia ter erguido em volta de si. Aziri diz a Orfeu que, se os mestres templários não o ensinariam, ele mesmo o faria. E assim, os dois começaram o treino basilar monástico na fazenda.Treinamento e conflito (2.074 a 2.081 E.P.)
Aziri e Orfeu passavam parte do dia cuidando da fazenda, e parte do dia treinando. O humano era um aprendiz ainda mais formidável do que Aziri fora em sua juventude e mostrou domínio sobre o elemento ar em apenas alguns meses. O jovem anillla, agora na posição de mestre, absorvia profundas lições sobre a filosofia do templo que, quando criança, nunca fora capaz de compreender. A felicidade de um na companhia do outro era visível a todos os moradores da vila. Ao ver os dois treinando, alguns outros jovens que haviam sido recusados do templo pedem para se juntar aos dois, a princípio, Aziri recusa, mas depois de um pouco de convencimento de Orfeu, aceita discípulos adicionais. Este processo se repete e, em quatro anos, já havia dezenas de jovens, humanos e anillas, treinando com Aziri e Orfeu.A lenda diz que, um dia, Aziri estava treinando uma nova técnica sozinho, temeroso de machucar seus discípulos. Em um momento de grande concentração, o anilla desfere seu golpe, apontando seu punho para o céu, lançando uma forte rajada de energia elemental. Logo depois, um pássaro cai morto perto dele. Aziri chorara tanto que Orfeu teve de consolá-lo durante o resto do dia. Foi a primeira e penúltima vez que o anilla tiraria uma vida.A disciplina do anilla e a empatia do humano eram uma combinação nunca antes vista em Wayrur, e começou a chamar atenção dos mestres templários, afinal, ainda era proibido ensinar magia de ar a não-anillas. O progresso de Orfeu era vertiginoso, alguns anos, seu domínio sobre as técnicas monásticas e magias do elemento ar já estavam tão fortes quanto os de Aziri. Quando a primeira carta de advertência de Killari chegou, Orfeu explodiu em fúria: os arrogantes monges que o recusaram agora o perseguiam para interromper seu treino? Eram invejosos e covardes que percebiam que suas técnicas estavam ultrapassadas. Aziri, no entanto, acalma o companheiro, dizendo-lhe que aquelas eram as leis locais e que deveriam ser obedecidas, e se oferece para ir ao templo tentar convencer os mestres de deixa-los continuar treinando. Assim que chega ao templo, no entanto, o jovem anilla é preso por violar o código monástico, e a notícia de sua prisão divide seus aprendizes em dois: um grupo foge de Wayrur com medo de serem presos também, mas outro grupo, incitado por Orfeu, recusa-se a se entregar ou a sair.
Confronto e morte (2.088 E.P.)
Preocupado com o potencial derramamento de sangue que um conflito entre seus aprendizes e templários poderia causar, Aziri pede aos mestres que o soltem para convencer Orfeu a parar com a resistência. Seus pedidos são ignorados e um grupo de monges combatentes é enviado à fazenda. Do banho de sangue que se segue, apenas Orfeu sai vivo, agora infundido com o ódio adicional da perda de seus discípulos, começa a subir as longas escadarias montanha acima, pronto para eliminar os mestres que tanto odiava. Percebendo que não teria escolha, Aziri então foge da prisão para tentar impedir seu companheiro antes que fosse tarde demais.Hoje é possível concluir que Aziri voou para fugir de seu cativeiro, pois é a única maneira de se escapar com vida de uma cela no templo Killari. Usar magias do ar para voar ainda é um forte tabu entre anillas, que acreditam que, se seu destino fosse conquistar os céus, Ambara os teria criado com asas como os pássaros.Aziri e Orfeu teriam se encontrado no meio do caminho da longa escadaria que levava ao templo. Há diversas versões do diálogo que teria ocorrido neste momento fatídico, mas talvez a mais interessante seria aquela em que ambos permanecem calados:
Ao olhar nos olhos de Orfeu, Aziri vê a incomensurável força do ódio que já o corrompera. Vê que não há mais nada irá chegar aos ouvidos de um homem que perdeu aqueles que considerava seus próprios filhos. Orfeu, por outro lado, só consegue ver nos olhos de Aziri a apatia que tanto odiava quando o conhecera e que ele tanto lutou para dissolver. Orfeu então avança, e Aziri assume a pose da garça e tira, pela segunda e última vez, uma vida com suas próprias mãos, usando o que sabemos até hoje ser a técnica mais poderosa do elemento ar que já existiu: O Punho dos Céus, um ataque tão devastador que nem mesmo os deuses podem trazer de volta uma criatura morta por ele, pois, apesar de deixar o corpo totalmente intacto, destrói por completo o espírito.O corpo de Orfeu cai sem vida na imensa escadaria, Aziri caminha até ele lentamente e, com lágrimas nos olhos, pega seu companheiro no colo e desce as escadas do templo. Mais monges de Killari o perseguem, mas assim que lançam suas magias para prendê-lo, elas se dissipam antes mesmo de tocá-lo, e Aziri continua sua descida como se nada tivesse acontecido. Ao saber do ocorrido, o Grão-Mestre do Templo de Killari ordena que a perseguição pare e que Aziri seja deixado em paz, pois, se as magias de Ambara não o tocavam, era porque assim a Deusa o queria. O jovem Anilla enterra seu companheiro na fazenda na qual os dois passaram tanto tempo juntos, e lá chora por dias e dias, consolado pelos seus vizinhos. Depois de uma semana, Aziri se levanta e começa a subir as escadas do templo sem nada dizer. Os monges de Killari são alertados e ficam temerosos, mas o Grão-Mestre apenas diz que ninguém deve tentar impedi-lo. Então, o jovem anilla sobe até o templo, passa pelas salas, entra nas masmorras e senta-se a mesma cela onde fora preso. O próprio Grão-Mestre vai até ele e diz:
Seus pecados estão mais que pagos, vá.Aziri nada responde, apenas medita. Nenhum dos Mestres tem coragem de perturbá-lo, e o jovem não faz um movimento sequer por dias. Com o tempo, sua o povo da vila fica sabendo de sua meditação e as pessoas começam a peregrinar ao templo para deixar-lhe oferendas em homenagem a Orfeu e apoio ao seu aparente ato de protesto. Durante meses o monge medita em absoluto silêncio enquanto as velas, flores e outras oferendas se acumulam na cela até enchê-la. Então, numa manhã de inverno, um dos aprendizes que limpava o local todos os dias vai até a cela e a encontra vazia. Não havia janelas sem grade, não havia portas desguardadas e não haviam passagens secretas. Aziri simplesmente deixa o mundo mortal voluntariamente, de corpo e alma. Um feito que nenhum outro ser jamais conseguiu fazer.
Domínios e Valores
Guardião de Unya
Apenas os dignos adentrarão a morada dos Deuses.
Senhor das Artes Monásticas
Patrono das Letras
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