S01E38 - A queda do guerreiro
General Summary
Presos, amordaçados e sem espaço, a Guilda da Curtição era conduzida na carruagem-prisão em direção a Lariana, capital de Volstagrad. Q’Dor fitava os guardas quando eram alimentados, nas poucas horas que conseguiam ver a luz do sol fora do confinamento, e fazia ameaças, citando seus feitos. A Muriel e Latiffa Laqüiin era servido um mingau insosso, a única coisa que conseguiam passar pela mordaça em suas bocas sem arriscarem que as duas invocassem a ira de suas magias e de Vahlar sobre os soldados. Não que a maga fosse um problema, ela tinha exaurido suas magias na batalha em Aidalin.
Mas durante algumas noites a Guilda recebia uma visita. Nilbog Comegatos seguia a comitiva à distância e conseguia se aproximar à noite. Sem chamar a atenção dos guardas, a única coisa que conseguiu surrupiar foi o grimório de Muriel. A cada noite entregava uma página arrancada para que a maga pudesse ler com a pouca luz que entrava na carruagem-prisão e assim memorizar suas magias.
Em dos dias, o próprio Conde Kahrn os visitou. Guardas estavam ao seu lado e apenas uma portinhola da carruagem foi aberta. Yusuke Suzuki fez bravatas contra o nobre que os traíra. Estava certo de que todos os nobres agiam assim. Bastian esforçava-se para se levantar e tentar cuspir no rosto do traidor.
Kahrn agradeceu-lhes por recuperarem o Elmo de Gardaag, notando que já deviam saber sua história. A Guilda da Curtição era sua passagem para uma audiência pessoal com o Rei Isaris Kestantides e ele finalmente poderia completar seu plano: matar o rei e destruir Volstagrad, o reino que matou Gardaag e massacrou os bárbaros, tornando-o um escravo dos Reinos Ocidentais (A Vingança de Kahrn).
Q’Dor, Baden Urquell, Latiffa, Vanael, Muriel, Bastian e Yusuke não tinham palavras para o que ouviram de Kahrn. Em seus corações restava apenas o desejo de vingança contra o bárbaro tornado nobre. Em seu plano de acabar com Volstagrad, Kahrn se tornaria o guerreiro que buscava a vendeta da Profecia do Oráculo de Talena, colocando o mundo em risco. Todos eles acabaram sofrendo perdas e dores por serem colocados no meio desse embate.
Luzes na Escuridão
Quando chegaram em Lariana, a capital de Volstagrad, foram recebidos pelos cidadãos como párias a serem executados. Mentiras foram professadas sobre o envolvimento da Guilda da Curtição na morte dos irmãos
Felks Teocrates e
Falks Teocrates do clã
Teocrates e na sua atuação na rebelião de
Belars Livre. Nem todos concordavam com o que era dito, mas com o reino à beira de um colapso após as guerras contra Belars e
Asgariard, um inimigo comum era necessário para restabelecer a ordem. A Guilda da Curtição era esse bode expiatório.
O rei Isaris apareceu para a população, ladeado por Kahrn. Kahrn era um herói de guerra para os volstagradianos. O velho rei, que mal conseguia caminhar devido sua idade e a algum mal que o abatia era menos preferido que o guerreiro em ascenção. Isaris não tinha filhos, o que causava preocupações na linha sucessória. Algum clã nobre iria assumir o trono no advento de sua morte? Kahrn assumiria pelo gosto popular em alguma revolta? As intrigas políticas tomavam a mesa das tavernas de Lariana, mas agora na boca dos volstagradianos, a prisão da Guilda da Curtição era notícia.
O rei Isaris divulgou os feitos de Kahrn, motivação para que o concedesse o título de Duque Kahrn. Mais um marco na história de Kahrn, mais uma vitória para que volstagradianos sonhassem em ascender como Kahrn, de soldado a nobre. O rei e o agora duque se retiraram para deixar a população com sua próxima atração: a execução dos traidores.
A Guilda da Curtição foi levada ao cadafalso por uma escolta de soldados. No caminho, Q’Dor tentou tirar a mordaça de Muriel, amarrada logo atrás dele na fila, mas não conseguiu alcançá-la e os guardas bateram com seus porretes no guerreiro. Bastian percebeu um rosto conhecido na população e segurou um sorriso. Avisou por meio de chutes e trocas de olhares seu amigo elfo Vanael. O arqueiro entendeu e seu coração teve esperança mais uma vez. A morte viria.
Para Muriel, a certeza da morte era maior. A maga de mente dividida com Ofélia, sua mestra, observava o céu do dia ser tomado por nuvens negras e
Gamadis, a lua invisível, começar um eclipse. Viria agora o momento da profecia? Quem estaria executando o ritual de invocação dos
Deuses Antigos, que ela como
Ofélia tentou evitar que fugissem de sua prisão em
Yukkoth, o decrépito Isaris ou o duque Kahrn? Não importava, já estavam todos condenados.
Quando a execução foi anunciada e o aviso para ativar a forca fora dado, puderam ver pequenas luzes surgindo da multidão, pequenos vagalumes que eram soltos por algumas pessoas. Quando o chão se abriu e seus corpos caíram, seus pescoços não se quebraram. Da multidão vieram flechas que cortaram as cordas. Caíram ao chão, com toda a dor que isso possa causar, muito embora fosse melhor essa dor que sua morte.
A revolta dos vagalumes
O caos se instaurou. Os agentes dos
Vagalumes, o grupo secreto destinado a causar a queda de Isaris, a que pertenciam Vanael e Bastian, organizava o ataque. Diversos agentes infiltados atacavam os soldados e abriam passagens para que as milícias de Belars Livre que não caíram para o exército de Kahrn entrassem em Lariana.
Baden conseguiu arrancar a mordaça de Latiffa e a druida invocou seus poderes para se transformar em um gorila, quebrando as algemas e esmagando a cabeça de um soldado volstagradiano. Outro soldado tentou acertar Muriel com sua espada, mas a maga desviou e Q’Dor já segurava o martelo de um soldado que derrubara com força no chão com as mãos nuas. Os Vagalumes estavam libertando a Guilda de suas algemas. Jogaram alguns frascos para eles, poções de curas. Poucas, mas serviriam.
As flechas voavam das ameias e uma acertou o jovem guerreiro Baden. Vanael tomou o machado de um dos soldados e protegeu Muriel, correndo com Bastian e Yusuke para o castelo, avisados pelos vagalumes que seus equipamentos tinham sido levados para lá. Baden estava armado com uma espada e pulava enlouquecido atrás da gorila Latiffa, repetindo seu movimento como fizera com
Nilbog Comegatos na
Morada nos Céus.
De volta à forma
Q’Dor fez um feito de força segurando o portão do castelo que fechava. Por ele passaram seus companheiros de guilda e as forças rebeldes. Yusuke, Bastian e Vanael já se encontravam dentro do castelo, lutando contra as forças volstagradianas leais a Isaris e chegaram primeiro à sala onde seus equipamentos estavam. Ouvindo o som de uma barricada sendo montada, Yusuke usou seus dons de enganação para fazer o soldado lá dentro acreditar que ele era um capitão que pedia refúgio. O soldado acreditou e abriu a porta. O machado de Vanael fez o soldado perceber que fora enganado e conseguiu ver o mundo se dividir em dois, enquanto sua cabeça era dividida.
Lá dentro, um guerreiro usava o
Escudo de Sir Valerius de Q’Dor e sua espada caótica. Yusuke empurrou uma cadeira caída para cima dele e a usou para se impulsionar por sobre o guerreiro. Bastian e Vanael aproveitaram e partiram para cima do guerreiro que se defendeu de seus ataques. Quando o guerreiro se virou para atacar Yusuke, a espada acertou o ladrão, mas dele não saiu sangue.
Yusuke percebeu que não sentia dor e viu o guerreiro travado como uma estátua em sua última posição de ataque. Deixaram a curiosidade de lado para acabar com a ameaça. A espada de Q’Dor não saía das mãos do agora cadáver. Os outros chegaram na sala, Muriel trazendo um guerreiro de Volstagrad consigo, ou melhor, um esqueleto usando armadura e espada. Eustáquio, era o nome que dera.
Q’Dor entendeu o que sua espada fazia. Sentira seu poder enrijecedor da primeira vez que a empunhara (
S01E19 - O sumiço das crianças de Lindley, Parte 2), naquele covil dos kobolds infernais perto de
Lindley. A espada, tomada pelo poder do caos, poderia causar paralisia a quem a empunhasse ou fosse seu alvo.
O som de algo rápido batendo contra o chão chamou a atenção de todos. Sobre a barricada, saltou uma figura avermelhada, rápida como um raio. Era Coragem, a familiar de Muriel, que se jogou nos braços de sua mestra, buscando afagos pelo tempo que ficaram separadas.
Estavam todos novamente usando seus equipamentos. A armadura de Baden ainda destruída pelo ataque de seu irmão, mas não tinham tempo para arrumar outra. Precisavam encontrar Isaris Kestantides e Kahrn.
O Sacrifício da Rosa
Chegaram à sala do trono, fechada. Vanael percebeu uma pedra diferente na parede, que ao ser empurrada destravou as portas que levavam ao trono. Preparados para confrontar o rei, ficaram atônitos quando encontraram a sala sem uma viva alma. Corpos dos soldados de elite de Isaris, vindos de vários clãs nobres de Volstagrad, como percebeu Q’Dor e Baden, estavam caídos ao chão, com cortes profundos e marcas de queimadura. Mas nenhum sinal de Isaris ou Kahrn.
O trono vazio foi experimentado por Yusuke. Um chiste, pois ele não se via parado em uma posição assim por muito tempo. Sua vida envolveria aventuras, não sentar em um trono e ficar parado ali até sua morte. Puseram-se a procurar uma passagem secreta por onde teriam saído e encontraram uma escadaria escondida que subia ao topo do castelo.
No topo, o forte vento e uma chuva bizarra caía. Não havia mais luz no dia, apenas a escuridão das nuvens e um tênue brilho do sol sendo tapado quase completamente por Gamadis. O rei Isaris gritava contra uma figura usando armadura bárbara e com o rosto coberto por um elmo sinistro, o elmo de Gardaag. Em suas palavras, gritava que seria ele a executar o ritual, sacrificando a rosa e teria juventude eterna.
Mariana estava amarrada sobre um altar, nua e com o corpo pintado por sangue. Ela era a rosa que Chimay Urquell havia mencionado. Ela era a rosa que o capitão do
Forte secretamente protegia em Lindley. Havia algo de especial nela para ser o sacrifício, mas não tinham como saber o quê. Ao seu lado, os artefatos élficos roubados por Chimay: vasos, armas e outros objetos.
Kahrn enfiou a espada no ventre de Isaris. Com uma voz cavernosa vindo do elmo, dizia que seria ele a trazer a ruína dos Reinos Ocidentais com a vinda dos Deuses Antigos. Sua espada se acendeu em chamas imolando o corpo do velho rei e virou para a Guilda da Curtição. Era inútil, ele faria o sacrifício e destruiria tudo.
Disparando com uma velocidade impressionante para cima de Baden, Kahrn o acertou com sua espada flamejante, o que causou imensa dor. Latiffa viu-se na necessidade de voltar à forma humana para poder conjurar uma névoa obscurante para proteger a Guilda dos ataques do duque.
Bastian, após ter usado sua música para dar vigor aos amigos, dispara na direção do altar. Yusuke, após aproveitar que Vanael e Q’Dor se posicionavam para flanquear Kahrn, encontrou um ponto cego em sua defesa para acertá-lo. Tomou um dos golpes de sua espada flamejante e com muita dor, agarrando-se ao pouco de vida que lhe restava, decidiu ajudar Bastian em sua tarefa.
Yusuke revistou o corpo de Isaris e encontrou o anel real, com um rubi marcado e o colocou no bolso. Tirou um amuleto do corpo queimado, que parecia muito com o amuleto usado pelo sacerdote do
Rei Amarelo que enfrentaram nas
Cavernas da Escuridão. Quando colocou o amuleto, sentiu-se sendo dominado por uma força maligna e alienígena. Apenas com muito esforço conseguiu tirar o colar para evitar a dominação.
Muriel disparava seus mísseis mágicos contra o duque e enviou Eustáquio para enfrentá-lo. Q’Dor e Baden conseguiam atingir o duque com força. Vanael disparava suas flechas buscando posição para se distanciar e correr até os artefatos élficos.
Bastian estava examinando a situação. Percebeu que havia um campo de força em volta de Mariana e dos artefatos. A menina gritava e isso o deixava ainda mais nervoso, precisava fazer alguma coisa rápido. Tentou chutar um dos vasos élficos e foi tomado por um choque de dor, mas viu que havia conseguido criar uma trinca. Yusuke tentou usar sua espada, mas seu braço doeu com o choque. Poderiam acabar mortos se continuassem tentando, deveria haver alguma outra forma de quebrar esse encanto.
Baden segurava os ataques do duque. Sua armadura já reduzida a frangalhos e seu corpo severamente queimado. Q’Dor conseguiu um golpe perfeito e abriu um grande corte no braço do escudo de Kahrn. O som de tendões sendo rompidos e a carne se abrindo abriu caminho para um grito, cortado repentinamente. O duque estava paralisado! Baden aproveitou o momento para arrancar o elmo de Gardaag da cabeça de Kahrn e o arremessou para fora do castelo. Latiffa, vendo que Kahrn sangrava muito, transformou-se em gorila para ajudar na luta.
Enquanto isso, Yusuke resolveu jogar o cadáver de Isaris em cima de Mariana. O corpo ficou se debatendo contra o campo de força até explodir, jogando sangue e tripas em todos em volta. A pressa era necessária. O mundo ao redor deles parecia mudar, transformando-se repentinamente em uma versão distorcida e voltando em lampejos para o mundo como conheciam. No horizonte, relampejava uma figura ciclópica de um gigantesco homem com cabeça de polvo, cada vez mais próximo.
Kahrn saiu da paralisia causada pela espada de Q’Dor e em um urro de raiva atacou o taciturno guerreiro e o jovem guerreiro. Baden não aguentou os ferimentos do ataque e caiu. Latiffa urrou e pôs-se a esmurrar o duque. Q’Dor conseguiu dar um golpe certeiro, cortando a garganta de Kahrn.
Kahrn, com a garganta vertendo sangue, tentava urrar e acertar Q’Dor, que desviava. Sua espada flamejante vacilava e o próprio fogo passou a consumir o duque. Kahrn morreu em pé, uma pira humana. Mas o ritual não tinha sido parado.
Bastian correu para acudir Baden, jogando poções de cura em sua garganta. Muriel buscou Ofélia para entender o que poderia fazer. O
gigantesco homem-polvo parecia se aproximar mais a cada relampejo. O mundo era cada vez era mais a distorção que a própria realidade.
Muriel correu até o altar do ritual. Não sabia mais se era Ofélia que comandava o corpo ou ser era o seu próprio instinto. Os outros puderam vê-la pronunciando palavras arcanas e o vento e a chuva transformavam-se em um furacão, era impossível de ver ou ouvir alguma coisa. Até que um clarão se fez e todos caíram.
Quando recobraram a consciência, as nuvens deixavam o céu e o sol podia ser visto novamente. Mariana chorava abraçada em Muriel. Dos olhos da necromante, lágrimas saíam enquanto ela murmurava o nome de sua mestra. Não era mais Muriel/Ofélia, voltara a ser somente Muriel.