Licantropia

“A noite começa a cair e os passos furiosos a se aproximar, o povo clama a morte do caçador e culpam-no por crimes hediondos - “Sangue demais fora derramado por ti, estrangeiro! Saia de sua casa, aceite o julgamento de Caenis seu assassino!”. Contudo, ao arrombarem a porta de seu chalé não encontram sinal de homem, apenas correntes e grilhões partidos, olhos azuis na noite e o rosnado de uma fera. A noite já caiu, tal como o corpo do povo que com suas tochas e forquilhas não foram o suficiente para cessar a maldição do Licantropo” - Contos de Guimel
 

A Licantropia

Há quem a considere uma bênção, há quem a considere uma maldição, mas o que todos vão concordar é que a licantropia se trata de uma antiga condição que a muito tempo está vinculada aos povos mortais, afetando desde os antigos gigantes até os jovens humanos. Licantropos são aqueles cujo sangue carrega o poder das feras, troca-peles capazes de variar entre a forma de homem e besta, sendo estas majoritariamente predadoras - como tigres e ursos - ou criaturas que capazes de devorar qualquer coisa - como javalis e ratos. Essa condição, contudo, tende a não ser partilhada com outros, e quando acaba por ser, costuma ser justamente por aqueles que já entregaram sua mente à da besta, assim se perdendo na noite.
 

A Origem da Besta

Esse fenômeno tem origem nas bestas de Mahrvos que em sua antiguidade, quando o mundo ainda era muito mais selvagem, tinham a capacidade de se transformar em seres humanoides, criaturas que mantinham muitos dos traços bestiais. Estas bestas, conforme o mundo foi se tornando mais e mais civilizado, também foram mudando, algumas se afundando cada vez mais na natureza e outras rodeando e invadindo os povos, fosse para predá-los ou compreendê-los, e é nessa escolha de caminhos em que os licantropos se originam, criando as três castas: o Sangue Puro, o Sangue Atroz e o Sangue Imundo. Os que optaram por se recolher à natureza caminharam sob completa tutela de Mahrvos, tornando-se guardiões dos santuários do deus, sendo criaturas poucas sociáveis e que se prendiam a círculos muito fechados estes seres interagiam apenas com outros seguidores do Ancião, assim criando linhagens de sangue e dando origem a seres tocados pela bênção da besta, os de Sangue Puro. Quanto aos que se afastaram das zonas mais selvagens para rodear os povos, estes sofreram algo inimaginável para seu criador, a intervenção de outro deus, M’nzog, pai das monstruosidades. A divindade tomou interesse pelas bestas e passou a sussurrar-lhes conselhos, ideias e desejos que não eram intrínsecos a eles, fazendo com que os que se alimentavam dos povos caçá-los ainda mais, consumindo e servindo-os como alimento às suas ninhadas, fazendo seus descendentes vestirem suas peles para predá-los ainda melhor, mas também os dando um corpo disforme com seus ossos ameaçando rasgar sua pelagem animal, e a essas criaturas foi dado o nome de Sangue Atroz. Por fim, haviam os que se envolviam e cresciam entre os homens, que mesmo sofrendo dos sussurros buscavam negar e recusar os instintos violentos do deus monstruoso. Entretanto a esses restaria um destino cruel e sangrento, pois os que caminhavam entre os povos acabavam por às vezes sofrer impulsos que nem mesmo eles eram capazes de negar, às vezes se transformando em bestas e outras até mesmo sucumbindo a momentos de violência bestial que, para os povos, era algo horrendo e assustador, mas pior que isso, os faziam ser confundidos com de Sangue Atroz e por isso caçados e levados às fogueiras e execuções. Contudo, para aqueles que foram vítimas do medo dos povos e sussurros de M’nzog, sua vingança ainda viria a recair sob seus executores em forma de uma maldição originada no inverno, quando as longas noites desafiavam a sobrevivência e a fome crescia para os homens. Não se sabe dizer com certeza onde, quando ou sob qual sugestão esse evento teve início, especulando-se que pode ter sido por sussurros do próprio M’nzog, interesse dos homens de serem fortes como as feras, por simples terror de morrer de fome ou outras infinitas lendas que crescem ao redor da licantropia, mas o que se sabe é que como resultado dos povos ao devorar a carne dessas antigas bestas os mesmos foram amaldiçoados pela noite, sendo tocados pelo furiosos e vingativo sangue das feras que estaria sempre em conflito com a mente dos homens, criando aqui a maldição dos de Sangue Imundo.
 

Conflitos de Sangue

Como conta a origem, os licantropos se dividem em três grandes castas, as quais se dividem por como o indivíduo contraiu a condição. Estas castas de licantropo dividem apenas duas coisas em comum, sua origem bestial e seu ódio primordial uma pela outra, sendo então inimigos naturais e que vivem em conflito. Os puros executam outros licantropos que tenham se perdido para a besta como um ato de misericórdia, acreditando que apenas assim estarão libertando os espíritos selvagens dos homens e assim permitindo que ambos tenham seu repouso, contudo é possível encontrar, apesar de raro, aqueles que cedam algum auxílio a indivíduos recém infectados com o sangue imundo, buscando os curar. Já quanto aos atrozes e imundos, estes seres não dividem nenhum respeito ou carinho pelos homens. Para os atrozes os homens são apenas parte de seu cardápio, servindo meramente como comida, e por isso outros licantropos são sempre vistos como ameaças para seu ambiente de caça. Enquanto, para os imundos, os povos são vistos de maneiras muito diferentes, pois entre os imundos estão desde os licantropos que foram infectados por algum outro imundo ou transformados por rituais, tendo consentimento ou não. Contudo, mesmo que seu olhar para com os homens seja variável, indo de ódio e amargura a indiferença, perante licantropos o mesmo não ocorre, pois mesmo sem compreender o motivo a besta que influencia o sangue dos imundos reage violentamente à presença do sangue puro ou atroz.
 

Infecção e Cura

Há diversas maneiras de contrair a licantropia, algumas menos atormentadoras que outras, mas todas elas carregam traço sanguíneo. Entre os sangues, é apenas possível contrair licantropia de um puro ou imundo, sendo impossível para os povos se tornar um licantropo de sangue atroz, o que ocorre pela relação dessas criaturas mais para com as bestas que para os homens, assim sendo essas criaturas costumam apenas se originar da relação entre um igual de sua espécie, motivo inclusive pelo qual eles são bem mais raros que os restantes e também pelo qual existem bestas atrozes, animais muito mais fortes e terríveis que o normal, sendo estes descendentes da relação de licantropos atrozes com bestas comuns. Assim sendo, as únicas castas que um licantropo pode ingressar são os puros ou imundos, e para cada um deles há uma série de formas e restrições oriundas de suas relações e cultura:
  • Sangue Puro: Licantropos de sangue puro veem sua condição como uma bênção do Ancião e vivem em grupos, bandos ou clãs muito fechados e isolados. As duas únicas maneiras de se tornar um licantropo desta casta é a descendência e linhagem - o filho de um sangue puro costuma nascer um licantropo, e diferente de outras formas de contágio, esse tipo de licantropia é irreversível - ou então pela mordida, a qual eles podem optar por passar a licantropia ou não, mas eles apenas o fazem para com indivíduos que sejam considerados dignos ou seus próprios filhos quando o mesmo acaba por não nascer já com a bênção da licantropia.
  • Sangue Imundo: Licantropos de sangue imundo veem sua condição como uma maldição, apesar de alguns podem estar tão perdidos na mesma que a chamam de bênção da noite. Essa é a casta com maior número de licantropos, mas não necessariamente isso a faz a mais forte, pois apesar de populosa os imundos raramente trabalham juntos, seja por indiferença, rancor ou qualquer outro motivo. A maneira mais comum de se tornar um licantropo é a mordida infecciosa de um imundo - a qual o mesmo pode escolher não ser contagiosa, mas raramente não é - que pode ocorrer por bandos de licantropos buscando acrescentar números a seu grupo, licantropos que se perderam na besta e atacam irracionalmente, indivíduos amargurados que escolhem amaldiçoar outros para sofrerem sua dor, e até mesmo o mais infeliz caso de um recém amaldiçoado que perdeu o controle acabou por selar o destino de outras pessoas por infortúnio do destino. Contudo há outras duas formas ser amaldiçoado ao sangue imundo, ambas envolvem rituais sangrentos, como o devorar da carne de um licantropo, sendo dito que o homem que o faz até os ossos passa a carregar a força da besta morta, ou feitiços que bruxas costumam lançar usando de pedaços da carcaça de um licantropo como componente - assim dando origem a maldições como o filho do sétimo filho.
A cura, por sua vez, varia de caso para caso. Licantropos atrozes e puros que nasceram com a condição não podem ser curados, levando a condição para o além túmulo, ou sendo necessário o uso de poderes que alterem a realidade, como o feitiço Desejo. Enquanto a licantropia dos puros e imundos oriunda da infecção causada pela mordida pode, muitas vezes, ser curada com o uso de feitiços divinos que curem maldições, como o feitiço Remover Maldições, mas há casos, como para os imundos, em que a maldição está tão atrelada à sua alma e corpo que outros métodos podem ser necessários, desde caçar o licantropo que lhe infectou, a rituais usando carcaças do animal que representa a besta atrelada ao licantropo ou até implorar à bruxa que o amaldiçoou para que encerre a mesma. A grande verdade sobre a licantropia é que ela pode ser curada de forma tão simples como recorrer aos templos divinos, ou tão difícil como caçar seu agressor atravessando todos os reinos de Pheros.
 

A Lua e a Fera

Apesar de não se compreender exatamente a ligação dessas criaturas com a lua, tendo histórias que dizem ser pelas noites de inverno que deram origem aos imundos, pela lua representar o olhar de M’nzog buscando trazer o descontrole das bestas ou ainda que a lua é uma tentativa de Chantrea, deusa da noite, de mostrar a verdadeira face das criaturas que caminham na noite, o que se sabe sem dúvida é que quando a lua cheia se revela no céu noturno essas criaturas não conseguem controlar a fera que habita seu sangue, assim cedendo à forma bestial e descontrole. Esse descontrole ocorre com todo licantropo, estando imunes a este efeito apenas aqueles que se refugiam nos santuários que os de sangue puro protegem ou indivíduos contaminados naquela lua cheia, assim fazendo da noite de lua cheia uma data perigosa e aterradora a qualquer casta.   A noite de lua cheia traz a fera que habita o âmago dos licantropos para fora, fazendo-a tomar o controle do corpo e mente do indivíduo, lhe roubando a consciência por toda a noite. Durante esse período o licantropo reverte à sua forma animalesca, seja ela a híbrida ou bestial, e age como uma fera buscando predar para se alimentar, não se importando se com isso estará atacando amigos ou familiares. Com o passar da noite o licantropo irá despertar e a besta volta à sua toca nas profundezas do mesmo, o licantropo não retém memórias do que foi feito enquanto a besta estava sob o controle, mas no lugar disso ele se recorda de maneira vívida de passar por um turbilhão de pesadelos que causam medo, fúria e repúdio.
 

Controlando a Maldição

A licantropia é uma condição infeliz para qualquer um que não tenha uma enorme força de vontade, pois a besta buscará sempre se alimentar de suas inseguranças, fraquezas e medos para crescer mais forte, algo que mesmo os puros acabam por estar fadados a sofrer se deixarem seus santuários. E por isso é necessário investir muito de sua alma para tentar controlar a maldição, ou então ceder por completo a ela e se tornar mais um licantropo violento e fora de controle, abandonando sua razão e deixando a besta controlar suas ações enquanto você é apenas o coadjuvante de suas escolhas. Contudo, aqueles que escolhem restringir a besta em amarras e controlá-la, se o fizerem com cuidado, podem extrair força da mesma, apesar de sempre estar lidando com riscos para sua vida e a de seus colegas.   [Em construção...]
Da esquerda para a direita, licantropo de rato, lobo e urso

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