Erd, A Sombra da Montanha
Deixe-me colocar as coisas em perpectiva: se Erd tivesse voado até Unya para se empoleirar lá, nenhum Deus nascido depois da Era da Gênese poderia tê-lo impedido. Mesmo os mais ferozes do panteão: Aurélia, Yao, Turan e Apoena teriam sucumbido perante a Sombra da Montanha. Se Erd não tomou um lugar entre os deuses, foi porque ele não se interessou em fazê-lo.
Origens
Nascimento e Primeira Infância
Não existe nenhuma explicação precisa para o nascimento de um dragão sob a égide da energia acitra: é sabido que ovos dracônicos absorvem energia mágica ao seu redor para seu desenvolvimento, mas nunca isso resultou em um dragão nascer naturalmente dominando alguma energia que não fosse a do fogo. As teses sobre o nascimento de Erd incluem discípulos de Yaroh, O Corrompido que teriam roubado um ovo e projetado suas energias nele, há também os que acreditam que um jovem dragão se perdeu no Além-Mundo, absorvendo as energias que lá estavam para depois colocar seus ovos já imbuídos com energai negra no mundo mortal. Apesar de possíveis, nenhuma dessas teorias pode ser corroborada com nenhum tipo de relato divino ou mortal. Havia pouco domínio da escrita entre as comunidades nortenhas fora da Península de Aidha e as entidades que caminhavam sobre o mundo estavam mais preocupadas em cuidar de seus seguidores do que saber o que acontecia nas entranhas da Cordilheira de Raksas. Podemos, portanto, presumir que Erd nasceu entre o século I e VI E.P. em algum lugar na Cordilheira de Raksas, em um covil cujo dono muito provavelmente fora morto por seus pares em disputas territoriais ou simples canibalismo. De lá, muito provavelmente saiu sem ser percebido e adentrou na mata oeste, pois certamente teria sido devorado se tivesse se aventurado Cordilheira adentro. No noroeste de Gondwana, Erd certamente se alimentou de pequenos animais durante seus primeiros anos de vida: lebres, serpentes e peixes. Aprendeu a se esconder bem o suficiente para não ser morto por ursos mais agressivos ou felinos de grande porte, que ainda representam perigo para um dragão em sua primeira infância.Segunda e Terceira Infância
Apesar de não haver nenhum relato confiável até por volta de 370 E.P., deduz-se que Erd subiu com facilidade na cadeia alimentar da fauna nortenha. A percepção mágica dracônica é uma enorme vantagem na caçada, e as chamas negras que ele muito provavelmente já era capaz de lançar lhe permitiam o ataque a distância. Com essa idade, dragões já demonstram notável inteligência tática, sendo capazes de calcular o custo benefício de combates com razoável precisão. Imagina-se, além disso, que Erd era ainda mais cauteloso e observador que seus pares, dada a natureza de seu elemento regente. Todos esses fatores muito provavelmente lhe asseguraram o posto de predador alpha entre sua segunda e terceira infância (15-25 anos). É possível que um viajante solitário ou uma caravana de nômades tenha avistado o Dragão Negro nesse período, mas nenhum relato consistente nos alcançou. Podemos apenas imaginar o medo e a apreensão dos humanos que tiveram um vislumbre da criatura que, apesar de já ser um perigoso assassino, provavelmente não atacou nenhum humano durante décadas.Juventude e primeiros relatos
O primeiro registro oficial que se tem de Erd é do ano de 370 E.P. Ele foi avistado por uma caravana de viajantes numa rota ao sul de Sidéria, e o relato foi registrado por um escriba na província sul de Aidha dias depois.É evidente que, de acordo com as características fornecidas pelos viajantes, não há dúvida de que se trata de um jovem dragão de coloração negra. Não há, até agora, indícios de covil nas proximidades do local.Na época, não se sabia quase nada sobre dragões. O fato das escamas de Erd serem negras, portanto, não chamou a atenção dos primeiros que o documentaram. O dragão negro aparece em apenas mais outros três registros nas duas décadas seguintes, um deles ao norte de Dení, e outro na própria península de Aidha. Em ambos os casos, o “dragão de coloração negra” fora avistado por caravanas ou soldados em marcha, mas a uma grande distância e por um tempo muito breve, Erd parecia, ao contrário de dragões normais, querer não ser notado. Acredita-se que sua fama tenha aumentado nas vilas nortenhas ao longo dessas duas décadas. É bem provável que vários viajantes o tenham avistado, mas nem todas as histórias chegaram aos registros oficiais. Erd provavelmente tinha cerca de seis metros de altura e quinze do comprimento nessa época, mas tinha hábitos noturnos e era excepcionalmente silencioso para o seu tamanho, o que aumentava a aura de medo e mistério em torno dele. A ideia de que havia um dragão que poderia esgueirar-se sem ser visto e subitamente devorar uma caravana inteira era aterradora, e o fato de Erd nunca o ter feito estimulava as lendas de que não havia sobreviventes de seus supostos ataques.
Adulto jovem: Primeiras Excursões e duelo entre dragões
Com o tempo, tanto nortenhos quanto aidhanos começaram a caçar o dragão negro. Diversas expedições foram formadas entre o fim do século IV e início do século V, todas elas infrutíferas. Os batedores sempre pareciam estar um passo atrás da besta. Marcas de pegadas, restos de caçada, todos os sinais estavam lá, menos o dragão. Nesta época, no entanto, uma importante descoberta é feita. Analisando os rastros de caça queimada de Erd, os principais escribas e magos de Aidha chegaram à conclusão de que a besta dominava o fogo negro. Essa descoberta certamente causou grande impacto na época, pois todos sabiam que dragões eram criaturas do caos, que apenas tinham acesso ao elemento fogo por terem, em tempos primórdios, devorado as primeiras fênix. Surgira então a pergunta: qual entidade negra teria Erd devorado para adquirir suas habilidades? Essa pergunta permaneceu sem resposta, uma vez que nem a própria Una sabia respondê-la. Os mitos em torno do dragão apenas aumentaram dali para frente, sua aura de mistério e fascínio se espelharam e, em alguns lugares, o medo de um repentino ataque da besta diminuiu, pois muitos aidhanos acreditavam que, se o dragão realmente tinha energia acitra dentro de si, não poderia ser realmente caótico. Essa teoria ganhou força quando, no ano de 456, as carcaças de dois dragões adultos-jovens são encontradas perto do estreito de Viloma. Os sinais eram claros: Erd os havia matado. O dragão negro era, afinal de contas, uma criatura que não parecia interessada em espalhar terror e pânico sobre os mortais. Além disso, ele era claramente mais poderoso que seus pares de mesma idade, uma vez que os sinais da batalha indicavam que Erd vencera sozinho sem perder uma gota sequer do próprio sangue.Guerra Dracônica e padrões de caça
Nenhum dragão chegou à península de Aidha no ano de 516. Hoje, sabemos que devemos este fato a Erd. O dragão negro matou cerca de doze outros dragões, quatro deles adulto maduros, ao longo dos meses em que as bestas estavam saindo de drakon para todas as partes de Gondwana. A cada carcaça encontrada, um misto de alívio e terror se manifestava: por um lado, um dragão a menos para nos atacar; por outro, e se Erd não estivesse realmente do nosso lado? O Dragão Negro era um caçador noturno e parecia atacar suas vítimas de surpresa, queimando-as e ao mesmo tempo sugando suas energias vitais com sua mordida: uma combinação de habilidades assustadoramente parecida com aquelas que eram ensinadas aos acólitos nos templos de Hanu, O Deus da Morte. Não havia dúvidas, Erd era um usuário de energia acitra que estava ficando mais forte e dominando cada vez melhor suas habilidades. Todos se perguntavam: até onde sua magia seria capaz de chegar? Se alguns humanos bem treinados poderiam usar a magia de Hanu para deter um pequeno exército, o que poderia um dragão fazer? Apesar do pensamento não ser confortável, Erd continuava popular nas vilas pesqueiras em ambas as bandas do Estreito de Viloma, o dragão matador de dragões parecia os proteger, ou, ao menos, proteger seu próprio território de outros dragões, o que já era bom o suficiente.
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