Quem é o Deus dos Mares para um mortal que vive nas montanhas?
Quem é o Deus da Guerra para o mortal que nunca pegou em armas?
Quem é a Deusa dos Ventos para o mortal que vive nas profundezas?
Pergunte quais os desígnios, os ensinamentos e até mesmo o nome desses Deuses, e silêncio será sua resposta, pois seus domínios têm limites.
Pergunte, então, a qualquer mortal em qualquer lugar quem é o Deus da Morte.
Eles sempre saberão.
Sempre.
— Aidha, a Rainha Negra.
Origens
O Mundo antes d'A Morte
O Cemitério das Rosas de Zhária
Existe uma única experiência universal, que conecta todas as raças, povos e indivíduos; do mais poderoso monarca ao mais simples dos aldeões: a morte. É difícil, portanto, imaginar um mundo sem essa expreciência tão fundamental.
A Lenda dos Quatro Irmãos é o único conjunto de eventos que supostamente antecedem a existência d'O Senhor das Almas - ou seja - que ocorreram antes que houvesse morte. O compilado de contos, canções e poemas que conta a história dos quatro primeiros elementais é altamente metafórica e vaga, e seu objetivo parece ser mais um compasso moral do que um relato preciso dos eventos mais antigos da existência.
É difícil, portanto, tirar conclusões sobre como elementais - os únicos seres vivos naquele tempo - surgiam e pereciam. Sabe-se apenas que, nos primórdios da Era da Gênese, quando um elemental era destruído, um outro elemental de igual poder surgia imediatamente em outra parte do globo. Com isso, elementais permaneciam em constante guerra. Seu renascimento instantâneo diminuía os custos da derrota em batalhas e fazia da paz um objetivo distante. Era necessário que as consequências dos atritos nos quais
agnis,
jalas,
maruts e
mahis se envolviam fossem mais severas.
O Despertar
Uma vez que a vida só poderia ser devidamente valorizada diante da iminência da morte, Hanu despertaria a partir de
Acitra para findar o ciclo interminável de renascimento dos elementais. Ao contrário dos outros Deuses, não há um local mítico que marca seu aparecimento no mundo. Não há um berço pois não há um nascimento. De acordo com as escrituras de seus acólitos:
"Hanu é a resposta natural da existência para o desequilíbrio do mundo. Para O Deus da Morte, não há uma jornada de autodescobrimento ou de amadurecimento como com tantos outros Deuses no Panteão. O Senhor do Além-Mundo não precisa "se tornar" nada, ele simplesmente "é".
Não há nenhuma representação direta do Senhor das Almas em esculturas ou pinturas feitas por mortais, e é improvável que um Deus tão antigo tenha uma forma carnal definida. Há, no entanto, o que seus acólitos chamam de "Aspectos": manifestações temporárias da presença de Hanu no mundo mortal que não refletem a verdadeira natureza do Deus, e sim a percepção que o indivíduo tem da morte.
Quanto tempo se passou entre o despertar de Hanu e sua primeira intervenção no mundo físico é um mistério. Escrituras nos mais antigos templos da Trindade Negra sugerem que o Senhor das Almas ficou em "absoluto silêncio por incontáveis dias e noites, apenas ouvindo os ecos do mundo". Se este estado meditativo durou séculos ou até milênios, nunca saberemos.
A Morte de Ágira
Há poucos eventos da Era da Gênese sobre os quais há confirmação divina, e a morte de Ágira, irmã gêmea de
Oshur, O Deus-Sol, é o mais antigo deles. Durante um conflito entre agnis e jalas, O Senhor das Almas teria aparecido subitamente no campo de batalha. Sem saber por quem o Mestre das Sombras lutava, ambos os lados recuaram do conflito temerosos - manos a elemental do fogo. Ágira foi, portanto, a primeira a desafiar a morte, e a primeira a sucumbir a ela.
Como quaisquer conhecimento que chega até nós de tempos distantes, este conto possui diversas variantes. Em algumas, Oshur percebe a força do Deus da Morte e tenta impedir o avanço da irmã. Em outros, Ágira desafia Hanu abertamente para um duelo, pensando tratar-se de um novo e poderoso general a serviço do exército inimigo. A única informação que realmente permanece consistente ao longo do tempo é que Oshur, de alguma maneira, hesitou em confrontar o Ceifeiro, enquanto sua irmã pagou o preço da impetuosidade.
Acredita-se que o Memorial de Ágira tenha sido construído pelos Filhos do Sol em eras antigas para homenagear a entidade. Infelizmente não é possível ver a figura da agni, visto que apenas a base da escultura sobreviveu.
Peregrinação e criação de Param
Depois de Ágira, incontáveis outros elementais encontraram seu fim através de Hanu. Quando e como se deu a criação do Além-Mundo continua um mistério até hoje. As melhores especulações vêm de tomos na Biblioteca de Aidha, que possui os registros mais antigos sobre a Entidade, supostamente escritos pelos conselheiros e sacerdotes vivos nos tempos da
Rainha Negra.
De acordo com os tomos, O Senhor das Almas pegou o amálgama de energias dos elementais que matara e moldou Param, o Além-Mundo, em três níveis. Não faltam pinturas, poemas e canções para descrever o primeiro nível, o Deserto Boreal, um limiar frio e belo entre Mundo e Além-Mundo que serve de travessia para os mortais cujo tempo chegou.
Sobre os outros dois níveis, no entanto, só os mais fervorosos seguidores da trindade negra sabem. Os registros mais completos da Academia dizem que o segundo nível de Param é um reflexo da Alma que nele se encontra, pode ser um suntuoso palácio, onde se bebe do bom vinho e se come do bom pão ou uma terra desolada, onde há desespero e dor incomensuráveis. Presume-se que o terceiro nível seja a morada do Próprio Pai das Sombras
O Decreto da Criação e o nascimento de Aidha
Acredita-se que, em algum momento da Era da Gênese, todos os Deuses entraram em consenso sobre criação de vida no mundo. Até então a vida existia em forma elemental, vegetal e animal. Os animais não possuíam a centelha divina, sendo assim, não podiam usar magia e não tinham vontade, apenas instinto. O Decreto da Criação teria sido a ação coordenada dos Deuses Antigos para criar seres de carne e osso que possuíssem vontade (como os elementais já possuíam), sendo, portanto capazes de pensamento e magia.
Hanu foi o primeiro Deus a criar vida com centelha divina. Ao contrário de como fariam os Deuses-Elementais, no entanto, O Ceifeiro não cria um povo ou uma raça, mas concentra todas as suas energias em um único ser:
Aidha, a primeira entidade semidivina a existir.
Morte da Senhora da Mata
O Broto de Iji
O último evento da Era da Gênese sobre o qual temos confirmação divina é a morte de
Doyin, A Senhora da Mata. Doyin criou um bosque usando seus vastos poderes e prometeu que os frutos e a água estariam tão cheios de vida que a morte nunca chegaria para os que nele residissem.
Hanu foi ao santuário buscar as almas que lhe eram devidas e Doyin colocou-se em seu caminho, impedindo sua passagem. A luta que se seguiu foi intensa, mas breve. A mortalha eventualmente desceu sobre a Senhora da Mata, deixando claro que, por mais que alguns seres pudessem desfrutar da longevidade trazida pela sincronia com bhava, a imortalidade estava fora de questão.
Os Filhos da Terra então se dividiram em dois grupos: de um lado, aqueles que aceitaram a mortalidade de sua co-criadora e continuaram suas vidas. De outro, aqueles que, enfurecidos diante da falta de retaliação da Mãe-Terra pela morte de Doyin, decidiram deixar a floresta santuário de Edennia. Este segundo grupo levou consigo um ramo da maior e mais vistosa árvore do santuário, que viria a se tornar, ao final de seu longo êxodo,
Iji, a Árvore da Vida, no coração da floresta de Odara.