Yaroh, O Corrompido

O irmão gêmeo de Una foi um dos mais poderosos semideuses da Era Panteônica, reunindo uma vasta rota de corsários que aterrorizou o litoral leste de Gondwana durante anos, além de ter criado diversas abominações, entre elas, os trasgos.
 

Nascimento e infância (301 a 316 E.P.)

 
Os gêmeos Yaroh e Una vieram ao mundo no ano 301 da Era Panteônica, nas terras de Aidha - então chamadas de Terranova pelos seus habitantes. Uma vez que Aidha era considerada ao mesmo tempo uma entidade, rainha, matriarca e guia, ajudá-la a cuidar de seus filhos era tarefa de grande honra e prestígio para os humanos que acolhera. Portanto, sempre havia indivíduos dispostos a cuidar dos pequenos gêmeos, visto que a mãe acumulava um alto número de funções de liderança.
 
Ao contrário da serena irmã, o agitado Yaroh chorava sem motivo, irritava-se e assustava-se fácil, principalmente quando separado da mãe. A infância dos pequenos gêmeos, entretanto, transcorreu sem acidentes ou turbulências. Os humanos nortenhos haviam escolhido um lugar distante de onde as outras raças construíam suas grandes cidades e de onde os dragões estavam se proliferando. A presença de uma poderosa entidade como líder prevenia conflitos internos e a abundância de terras facilitava a prosperidade de todos.
 
Aidha já liderava um povo de considerável tamanho quando os gêmeos começaram a andar com as próprias pernas. Yaroh era cruel com animais e servos, pregava peças em todos sempre que podia, explodindo em fúria a qualquer sinal de reprimenda. Una, por outro lado, acompanhava a mãe em seus compromissos sempre que possível, ouvindo suas discussões com o Conselho com atípica calma e paciência.
 
Com o passar do tempo, a sensação de honra e privilégio que era cuidar dos filhos de Aidha se reservava apenas à pequena Una, pois seu irmão ia se transformando em fardo, colocando todos em uma situação delicada: como lidar com uma criança difícil, mas que era descendente de uma entidade?
 
E assim foi até os dois completarem quinze anos: Yaroh apoquentava os responsáveis pelos seus cuidados cada vez mais, aumentando o nível de periculosidade de suas brincadeiras e a agressividade de suas reações, guardando mais e mais rancor com a irmã e a mãe. Una entendia cada vez melhor as relações entre as pessoas por observar as infindáveis reuniões, assembleias, votações e festivais dos quais sua mãe tinha que participar.
 

Liderança em Terranova (316 a 317 E.P.)

 
Aos 16 anos, Una acidentalmente mata um humano que tentara toma-la à força, e o maléfico Yaroh aproveita-se do momento de confusão e fraqueza da irmã para afastá-la de seu povo. O jovem diz que, como traíra a confiança da mãe e das pessoas que a amavam, ela não merecia a posição de regente que lhe fora confiada, e deveria fugir para bem longe para evitar a vergonha e ira de sua mãe e a retaliação de seus súditos.
 
A jovem Una acredita nas palavras do irmão e foge. Sua peregrinação ainda demoraria vinte anos. O breve tempo (cerca de um ano e meio) que Yaroh passou no comando de Terranova, entretanto, criaram as bases para seu poder. O jovem imediatamente anuncia que Una assassinara um inocente e fugira para escapar das garras da justiça. O povo, a princípio incrédulo, não tinha outra figura de autoridade a quem recorrer e prontamente seguiu as primeiras ordens do semideus: construção de forjas.
 
Até então a produção de metal na península se resumia a ferraduras, pregos e outros utensílios para uso cotidiano. Não havia produção significativa de armaduras ou espadas pois não eram necessários.
   
A segunda ordem do tirano é o início da construção de um gigantesco e suntuoso palácio, que viria a ser o Palácio de Onix. Yaroh mobiliza quase todos os recursos e mão de obra disponíveis, instalando leis draconianas para os trabalhadores envolvidos. Para reforçar sua autoridade, o jovem também começou a treinar seu próprio exército de elite nas artes do fogo negro que herdara de sua mãe, reservando privilégios e prêmios para os mais leais e que reforçassem sua vontade.
 
Algumas revoltas se iniciam, mas são duramente reprimidas. Em apenas alguns meses, as bases do castelo já estavam feitas e uma força de elite de algumas dezenas de homens já se delineava. A produção de armamento acelerava e a floresta era consumida para alimentar o crescimento desenfreado. O êxodo neste período teria sido maior não fossem as ferrenhas leis que o tirano implementara para punir deserção. Muitos humanos fugiram na calada da noite, alguns velejaram ao sul, mesclando-se com karnadharas mais liberais, outros formaram pequenas vilas que viriam onde hoje estão Tirsa e Dení, e alguns poucos rumaram mais ao norte.
 
Em pouco mais de um ano, Yaroh já estava formando os jovens que planejara transformar em soldados, construindo os barcos que formariam sua frota e predando a fauna e flora para abastecer seu insaciável apetite por poder. No final do ano de 318, no entanto, Aidha retorna à Terranova e se depara com o horror que seu filho orquestrara. O jovem tirano tenta ordenar seus homens para que prendam a semideusa, mas humano nenhum teria coragem para levantar a espada contra a grande matriarca. Ao perceber que resistiria sozinho, Yaroh tenta sua última cartada: humilhar-se e implorar por perdão.
  Aidha mal ouve as súplicas do filho. Levanta a mão para silenciá-lo e diz:  
Estás exilado. Se pisares em Terranova outra vez, eu mesma vou incinerá-lo.
 
Como um cachorro assustado, Yaroh foge. Os poucos seguidores que conseguiram esconder-se no momento da chegada de Aidha vão com ele. Seus outros generais, no entanto, são executados pela semideusa enfurecida.
 

Lorunnia e a construção da Fortaleza (318-336)

 
Não se sabe por onde Yaroh andou ou velejou durante o ano subsequente ao seu exílio, mas sabemos que, entre 318 e 319, ele decide estabelecer-se na ainda desconhecida Lorunnia, onde constrói um pequeno porto em poucos meses e decide tornar-se o senhor daquelas terras, à revelia do indefeso povo pesqueiro que já havitava a ilha.
 
Sem todos os recursos dos quais dispunha em Terranova, o tirano decide focar suas energias no recrutamento de novos seguidores, prometendo poder e riquezas. Ensinava seu fogo negro apenas aos mais devotos e fiéis, criando uma eficiente e hierarquizada rede de corsários que só aumentava.
 
Com uma frota significativa, Yaroh decide iniciar a construção de uma grande fortaleza no litoral leste de Lorunnia. A mão de obra seria de prisioneiros cuja deslealdade o enfurecera e escravos capturados no litoral leste de Gondwana. Há poucos detalhes de como se deu o início da empreitada, pois o tirano teve o cuidado de não deixar registros de seus planos (ou deixar algum engenheiro vivo), mas podemos imaginar que as condições de trabalho e punições eram tão severas quanto sua breve experiência em Terranova. Por volta de 323, as bases da fortaleza já estavam lá, e uma elite de Corsários-magos já estava plenamente organizada.
 
É curioso notar o cuidade que Yaroh teve em não provocar os anillas. Sem saber as reais capacidades mágicas da raça que nunca vira, ele dá claras ordens aos seus homens para "não perturbar, sob nenhuma circunstância, os Filhos do Vento".
 
Com uma frota cada vez mais numerosa e barcos cada vez maiores, Yaroh tem condições de mandar seus capitães cada vez mais longe no litoral de Gondwana, chegando até a Bacia d’Ouro por volta de 325, e estabelecendo o local como limite navegável, pois o jovem certamente já sabia da existência de Mitra e sua Cidade Branca, e não arriscaria corso em vilas ou portos que pudessem despertar a ira do Príncipe da Luz.
 
Assim, Yaroh vai consolidado sua hegemonia em Lorunnia. Assim que os primeiros níveis de sua fortaleza ficam prontos e seu porto adquire grandes proporções, ele começa a explorar o interior da ilha em busca das pedras preciosas cuja existência muito provavelmente já não lhe era mistério. Durante esse período, há alguns poucos incidentes envolvendo pescadores anillas que foram saqueados ou capturados como escravos, mas os homens que incorriam nessa falta eram queimados vivos em praça pública para servir de exemplo, Yaroh não arriscaria guerra com outra raça antes de ter seu próprio exército.
 

Comércio de Gemas encontro com Una (337-340)

 
No ano de 337, o megalomaníaco Forte Cinzento fica pronto. As ruínas que conhecemos hoje correspondem menos de um terço do que a estrutura foi naquela era. Em termos de tamanho absoluto, certamente era maior que os castelos de Zhária e Mitrânia, apesar de não contar com nenhum tipo de proteção arcana ou divina.
 
Yaroh cria uma elite de comerciantes e capitães, delegando a eles diversas funções na manutenção do porto que agora já era uma pequena cidade. Títulos, patentes e terras sempre estavam ao alcance dos mais fiéis e dispostos a se sacrificar pelo grande líder. Mas Yaroh sabia que não poderia vencer guerras apenas com corsários, e começa a treinar seu próprio exército.
 
Foi nesse contexto que Niara fomentou a primeira resistência organizada no litoral de Gondwana contra os corsários de Yaroh. Sua aura divina foi tão forte que converteu vários bons capitães e dificultou bastante o corso naquela região. O Corrompido, no entanto, não mandou seus melhores magos assassinos atrás da jovem, talvez porque achasse que o custo de perder a Bacia D’ouro era admissível frente a possibilidade de despertar a ira de Mitra tão cedo.
 
No ano de 340, antes de seu encontro com Una, Yaroh recebe notícias de que Niara estaria em um dos portos nortenhos controlados por seus seguidores, e chegara a entrar em conflito com um capitão. O tirano certamente gastou vastas quantidades de seu capital político para não mandar seus assassinos atrás da “Maga Branca”. Mas sabia que era uma questão de tempo para entrar em conflito com Mitrânia.
   
Una vem visita-lo no final do ano de 340, porém nunca saberemos o conteúdo da conversa entre os dois, pois a deusa nunca quis se pronunciar sobre o momento. Os relatos dos principais capitães e magos de Yaroh, que foram retirados do recinto no momento da chegada da Dama da Noite, é que, depois do encontro privado, ele teria passado o dia pensativo e distante, e não teceu nenhum comentário sobre a irmã.
 

Batalha naval e sacrifício de Niara (342-343)

 
Em 342, o fluxo de pedras preciosas de Karonte já atingira seu ápice: Yaroh tinha uma gigantesca frota, portos movimentados, milhares de seguidores e uma fortaleza praticamente intransponível. Então, Niara começa a mobilizar os anillas navegantes. Os principais barões e capitães que formavam a nata de seguidores do tirano já estavam pressionando Yaroh para tomar uma atitude quando a Maga Branca aparecera. No momento em que Niara começa a formar uma resistência com os anillas - habilidosos navegantes e fortes elementalistas - a decisão é rápida e fácil: morte à Maga Branca.
 
Yaroh mobiliza seus melhores assassinos, capitães e magos para um ataque rápido e fulminante, sem intenção de negociar, dar ultimato ou poupar inocentes no caminho. O tirano estava confiante de que já tinha força suficiente para não se preocupar com as casualidades da guerra.
 
Qual não é a sua surpresa ao saber que sua frota fora derrotada pela “resistência”. Indignado, o tirano então decide mandar ainda mais barcos com ainda mais homens, apenas para ter o mesmo resultado. Este padrão se repete por meses, por um lado, Yaroh possuía muito mais barcos, armamentos e homens para gastar. Por outro lado, os anillas tinha ajuda direta de Niara e seus seguidores (com curas e proteções fortíssimas) e seu domínio sobre seu elemento ar para afundar barcos inimigos.
 
A cada frota afundada, a insatisfação dos seguidores de Yaroh aumentava, e mesmo o tirano não poderia continuar com sua política de queimar vivos os seus críticos por tempo indefinido. O receio d’O Corrompido em não enfrentar anillas estava baseado no medo de que A Deusa-sem-Rosto tivesse deixado alguma poderosa entidade habitando a Cordilheira das Auroras para proteger seu povo. Entretanto, depois de meses de batalha, nenhum ser semidivino aparecera para auxiliar o povo-do-ar.
 
Ademais, Yaroh presume que sua frota e seus seguidores já são numerosos e poderosos o suficiente para fazer frente a uma possível retaliação de Mitra e sua poderosa e proficiente força naval no sudeste continental. O Corrompido então decide enfrentar Niara pessoalmente, mesmo sabendo que conspirações para substituí-lo começariam no momento em que embarcasse. O Tirano certamente pensou que executar conspiradores posteriormente seria simples uma vez que ele tivesse consigo a cabeça de Niara e o controle de toda a costa.
 
O embate final entre Yaroh e a resistência possui diversas versões. Os magos-assassinos d’O Corrompido e os seguidores de Niara recebem maior destaque nos contos e poemas épicos mitranianos, enquanto os anillas elementalistas desempenham maior protagonismo nos tomos templários da Cordilheira das Auroras. Existe apenas um ponto de convergência entre todas as narrativas deste confronto épico: Niara não enfrenta Yaroh diretamente, ela usa suas energias até a morte para curar e fortalecer seus aliados (tanto anillas quanto humanos).
 
Este sacrifício marca a virada da batalha, afetando o moral de anillas e humanos de uma maneira que apenas uma entidade divina poderia. Os magos-assassinos de Yaroh não conseguem vencer homens dispostos a morrer por uma causa justa (e carregando consigo uma fatia considerável da energia mágica doada no último suspiro de Niara). Totalmente derrotado, humilhado e quase morto, Yaroh foge covardemente do campo de batalha, utilizando quase todas as suas energias restantes para voar de volta para Lorunnia.
 
As ‘Asas Negras’ aparecem repetidamente em diversos relatos da época: uma técnica extremamente poderosa e de difícil execução que apenas alguns dos seguidores de Yaroh conseguiriam reproduzir.
 
Assim que chega a Karonte, Yaroh imediatamente chama seus ‘duques’ e ‘capitães’ que deixara a cargo dos assuntos na fortaleza, certamente com o intento de reestabelecer uma nova frota e um possível contra-ataque. Todos os convocados vêm imediatamente ao seu encontro no grande salão da fortaleza, fecham todas as portas, selam todas as saídas e, assim que Yaroh começa seu discurso sobre como seria mais fácil vencer a resistência agora que a Maga Branca estava morta, seus seguidores o cercam, estendem suas mãos e o queimam com o fogo negro que ele os ensinara.
 
O Corrompido tentaria resistir e levaria consigo dois dos doze traidores antes de ser reduzido a cinzas. Assim, um dos semideuses mais poderosos da Era Panteônica encontraria seu fim pelas mãos dos mortais nos quais ele nunca confiara, e deixaria um como legado instabilidade, guerra civil, uma profunda distorção da energia acitra e, é claro, os trasgos, que seriam criados anos mais tarde, num profano experimento que teria como principal componente as cinzas d’O Tirano.
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