Niara, A Deusa do Perdão

Niara foi a segunda deusa da Era Panteônica a nascer e uma das poucas que não deixou descendentes ou discípulos diretos. Sua compaixão incondicional e vastos poderes de cura ajudaram todas as raças e povos de sua época, rendendo-lhe a única apoteose cuja aceitação foi unânime entre os deuses.

Origem

 

Infância e juventude (315 – 336 E.P.)

  Niara nasceu no ano 315 da Era Panteônica a partir da semente de Mitra, o Príncipe da Luz. O poderoso semideus se afeiçoara por um grupo de humanos que se encontrava no litoral leste de Lemúria, tornando-se seu patriarca, general e guia. Pouco se sabe sobre sua mãe, uma humana comum que morreu na batalha contra Raksas, o Primeiro Dragão, e foi cremada com seu marido.   Quando ainda bebê, Niara não diferia muito das outras crianças humanas de sua época: chorava, ria, comia e dormia como qualquer outro mortal. Alguns dos mais próximos ao príncipe da luz chegaram a imaginar que a energia divina de Mitra não era hereditária, tão comum era o comportamento da criança.   Ao longo do tempo, entretanto, os primeiros sinais foram aparecendo. Niara aprendia cada vez mais rápido e manifestava cada vez mais energia mágica. Quando a diferença entre seu desenvolvimento e o das outras crianças se tornou grande demais, Mitra designou seus mais próximos e competentes devotos para instruir a jovem no caminho da luz.  
Hoje, o conjunto de deveres, obrigações e filosofias que regem a vida em Mitrânia enche centenas de livros. Naquele tempo, porém, a maior parte do conhecimento era repassado oralmente pelo próprio Príncipe da Luz, e os primeiros livros ainda demorariam décadas para serem escritos.
  A jovem Niara foi então treinada pelos melhores discípulos de seu pai, homens sábios, poderosos e virtuosos, que entendiam perfeitamente o papel de cada um na hantra . Não havia nenhuma lacuna no conhecimento repassado à semideusa, que absorvia todo o saber com velocidade e eficiência impressionantes. Mas não podemos dizer que foi uma infância feliz ou divertida: o peso da responsabilidade já pressionava Niara, que por vezes chorava e reclamava da imensa distância que agora existia entre ela e outras crianças de sua idade. Para a futura Deusa do Perdão, não haveria jogos, cantigas, brincadeiras ou passeios. A cada lição aprendida, a cada magia dominada, as expectativas apenas aumentavam.  
Mitra foi, inevitável e compreensivelmente, um pai distante. As responsabilidades acumuladas de general, Pontifex, patriarca e rei deixavam pouco espaço para a filha. As infindáveis aulas da jovem também acabavam por distanciá-la da mãe que, mesmo disposta a passar tempo com a filha, não poderia negligenciar o aproveitamento de seu potencial.
  A única atividade lúdica de Niara era cantar, o que fazia bem desde pequena sem nenhuma instrução. Sua voz era um deleite até para seus austeros e comprometidos mentores, que por vezes se distraíam de suas próprias lições quando a jovem punha-se a cantarolar.   Peregrinação: Zhária e os pavaki (336 – 337)   No ano de 336 E.P., Niara toma conhecimento do ataque do Dragão Ghor à Zhária. Os relatos de devastação causados por este novo e implacável inimigo deixam Niara tão impressionada que ela decide ir à cidade dos pavaki, a fim de usar seus poderes de cura para ajudar os feridos.   A princípio, seus mentores ficaram relutantes em deixar a prodigiosa jovem deixar a segurança de sua congregação. No entanto, foram forçados a admitir que não havia mais nada que pudesse ser ensinado à semideusa, que já ultrapassara todos os mais sábios homens e mulheres em termos de poder mágico e conhecimento acumulado. Apenas a experiência prática poderia acrescentar algo mais ao seu cabedal.   Sendo a filha de Mitra, foram oferecidos vários dos mais poderosos e habilidosos homens para acompanha-la em sua jornada. Niara, no entanto, recusa a guarda pessoal, alegando que seguidores tão formidáveis seriam mais úteis na cidade. A despeito do protesto de seus mentores, a jovem convence o pai da necessidade de sua jornada solitária.   A caminhada de Niara não encontrou percalços: animais não a atacavam, apenas a observavam curiosamente. Até os elementos não pareciam querer criar óbices a sua jornada, tão grande era sua conexão com bhava. Encontrou diversos humanos no Planalto Central que acabaram juntando-se a ela em sua peregrinação, atraídos por sua serenidade, sua aura divina e sua belíssima voz.   Depois de caminhar tranquilamente seguindo o rio Zamano, Niara chega à Zhária pronta para presenciar os horrores da guerra. Imaginara que encontraria centenas de mortos e milhares de feridos, que caminharia em meio a sangue e lágrimas de infindáveis vítimas do terrível dragão.  
As notícias do avanço pavaki sobre os dragões chegavam aos humanos do Planalto Central de maneira distorcida, não se usavam pombos-correio nem mensageiros a cavalo naquela época (até porque a grande maioria dos humanos não sabia ler). É compreensível, portanto, que os Mitranianos não soubessem com exatidão sobre os acontecimentos na cidade do Deus-Sol.
  Niara vê que um grande número de humanos já se adaptara à vida na Cidade do Sol, e que alguns pavaki estavam ensinando os segredos da magia do fogo para eles enquanto seus melhores guerreiros lutavam nas cordiheiras.   Niara, então, toma sua decisão: continuar sua peregrinação cordilheira adentro. Alguns dos humanos que a seguiram até então decidem ficar em Zhária, impressionados com os poderes do fogo, eles se tornariam os primeiros especialistas em pirogravura em madeira e cerâmica décadas depois. Mas alguns outros estavam decididos a acompanhar a futura Deusa do Perdão, e, depois de um breve descanso, puseram-se a caminhar com ela.   Ao contrário da primeira parte da caminhada, a segunda seria feita em terreno caótico e se, por um lado, lobos, onças e outros animais naturais não atacariam uma entidade tão equilibrada com bhava, tardos eram bem diferentes. Niara e seus seguidores foram emboscados diversas vezes, mas suas habilidades de cura mantiveram todos vivos e vigorosos durante o caminho, os pequenos cortes de machadinhas e arranhões de dentadas não significavam nada se curados rapidamente. Seus cantos, ao final de cada dia, acalentavam os corações dos viajantes cansados, preparando-os para o dia seguinte.   Depois de muito caminhar, eles chegaram ao primeiro acampamento pavaki, o horror da guerra que Niara não vira em Zhária estava ali, queimados, feridos, cobertos de cinza e sangue, os guerreiros que faziam a ofensiva contra os dragões tinham no rosto o semblante da desesperança e exaustão. Niara pôs-se a curar.   Durante quase todo o ano de 337, com vigor renovado tanto pelas curas quanto pela notícia da vitória contra Ghor, os pavakis retomaram a investida, empurrando os dragões de volta para o coração da cordilheira. Niara, entretanto, alertou os guerreiros sobre o perigo de continuar avançando: quanto mais longe da cidade, mais difícil seria de conseguir recursos e mais dispersas ficariam as tropas, a maioria deu ouvidos e decidiu voltar às suas famílias. Alguns poucos, ébrios com a longa série de vitórias, continuaram – estes nunca mais foram vistos.   Foi então que Niara ficou sabendo de outro lugar onde sua ajuda seria necessária, a Bacia D’Ouro, onde saqueadores e mercenários estavam aterrorizando os humanos locais. Com a certeza de que ainda demoraria muito tempo para os dragões voltarem a ameaçar as fronteiras de Zhária, Niara retomou sua peregrinação junto com seus ainda mais fieis seguidores.   Peregrinação: a Baía dOuro (338 – 340)   No ano de 338, a jovem chega ao litoral, ainda sem saber que quem estava por trás dos saques e ataques era o poderoso semideus Yaroh. Começa a ajudar os pescadores da região como pode, fornecendo-lhes cura, proteções mágicas e o acalanto de suas canções. Logo fica famosa na região, aumentando a resistência aos saqueadores, e inflando a coragem dos moradores locais.  
O nome Bacía d’Ouro viria apenas na Era do Caos, com a descoberta do metal precioso na região. Os registros da Era Panteônica indicam que as vilas tinham nomes simples que transpareciam o cotidiano provinciano da época: Porto Velho, Campo Verde, Porto Novo, Ancoreira, etc.
  Esta resistência chamou a atenção dos principais capitães que aterrorizavam o litoral, que logo identificaram a ousada maga que estava, aos poucos, organizando e unificando os pescadores. Insatisfeitos com a crescente dificuldade dos saques e até algumas baixas em seus contingentes, os piratas prepararam seus maiores navios, melhores equipamentos e mais temidos homens, e fizeram uma investida conjunta contra os portos, lançando um ultimatum: “entreguem a maga branca ou morram”.   Muitos naqueles simples e vilarejos nunca haviam visto uma quantidade tão vasta de navios de uma só vez. Pânico tomou conta dos homens que até então pensavam estar livres da opressão pirata. Niara, mantendo toda a sua serenidade, teria dito: “podem buscar-me, aqui estou. Apenas deixem estes homens em paz”.   Surpresos com a atitude pacifista, muitos pescadores tentaram convencê-la a fugir, uns poucos pretendiam lutar, mas Niara estava resoluta, e reforçou sua posição. Os piratas então desembarcaram de suas naus em seus barquetes e remaram até a praia com intento assassino. E foi nesse momento que a verdadeira natureza da futura deusa se revelou.   O encontro dos piratas com Niara possui diversas versões, em algumas delas, a semideusa caminha mar adentro com braços abertos, seguida por pescadores; em outras ela permanece na praia até a chegada dos invasores, e ainda há histórias que dizem que a entidade teria ficado em uma pequena doca de madeira, interagindo dali com os malfeitores. Em todas as versões, no entanto, há um diálogo que sempre está presente, no qual o capitão dos corsários indaga:    
“És tudo aquilo que dizem de ti?” Ao que Niara respondeu: “Sou aquilo que sou”
  Ela então tomou a mão amputada do capitão e um forte brilho branco se ascendeu entre os dois. Atônitos, todos viram a mão do homem se regenerar em um mero instante como se de lá nunca tivesse sido arrancada. Olhou de volta para Niara com os olhos cheios de lágrimas e caiu de joelhos pedindo perdão.  
Regenerar membros amputados requer quantidades tão vastas de energia que até hoje temos apenas quatro registros confiáveis dessa ocorrência, três delas com círculos completos de sete clérigos. Apenas o lendário Clérigo Jofiel conseguiu tal milagre sozinho.
  Depois de ver o impossível, todos os outros teriam se ajoelhado envergonhados, pedindo perdão à semideusa. Niara respondeu que não deveriam pedir perdão a ela, e sim aos pescadores que por tanto tempo sofreram com sua ganância e que, se quisessem reparar seus danos, deveriam ajudar a reconstruir aquilo que destruíram e devolver os espólios de seus saques. Virou-se então para os moradores e lhes disse que, se ela lhes ensinara qualquer coisa, era a perdoar e que a guerra não teria fim se dessem vazão a sentimentos de vingança e retaliação.   E assim, todos largaram suas armas e a paz foi feita. Claro que a natureza humana é demasiada volátil para se dizer que todos estavam satisfeitos. Alguns dos saqueadores esperaram o cair da noite para fugir ou reportar o estranho ocorrido a seu grande líder. Assim como algumas famílias decidiram abandonar a vila por não suportar a ideia de conviver com os assassinos de seus familiares. Entretanto, a poderosa aura da futura Deusa do Perdão forjaria uma poderosa comunidade no que hoje é a Bacia d’Ouro, local no qual até hoje, concentra o maior número de altares para a Deusa depois de Mitrânia. As primeiras guildas de pescadores e de marinha mercante de Lemúria nasceram dessa improvável aliança que só a palavra divina poderia forjar.   Niara ainda passou dois anos ensinando o domínio da energia radiante durante o dia, e cantando durante a noite. Nas próximas décadas, muitos humanos ribeirinhos, Mitrânia e até karnadharas da Península migrariam para a Bacia dOuro, criando uma colcha de retalhos de culturas e raças.   Peregrinação: encontro com Una e ida à Cordilheira das Auroras (340-341 E.P.)   A raiz dos conflitos no litoral leste de Lemúria, no entanto, ainda estava em Karonte. Yaroh, o filho exilado da semideusa Aidha , continuava a aumentar sua frota e chegara a capturar anillas em um de seus ataques. Havia boatos de que ele construíra uma grande fortaleza em sua ilha e que, lá, conduzia os mais macabros experimentos com seus prisioneiros.   Niara decide então viajar ao norte. Junto com os seus seguidores originais, agora já proficientes no domínio da energia radiante, e novos devotos ex-piratas e pescadores, vai até uma pequena vila nortenha próxima do rio Otres, de onde vieram as tenebrosas histórias. Ao chegar na vila, encontram piratas ainda leais a Yaroh, que atacam assim que reconhecem a “Maga Branca” mas que não são páreo para os homens de Niara, com vastas proteções mágicas em seus equipamentos.   O porto, predominantemente comercial, era um ponto de convergência importante para Karonte, e Niara percebeu que, apesar de haver alguns pescadores e comerciantes apenas tentando viver suas vidas, o maléfico Yaroh já tinha muitos seguidores fiéis naquele lugar. Assim, Niara e seus homens começam a atrair atenção indesejada muito rapidamente, ainda mais depois de derrotar piratas conhecidos no local com tamanha facilidade.   Já tensa com as tentativas de roubo e assassinato (todas mal-sucedidas), Niara começa a duvidar do que poderia fazer para diminuir a influência de Yaroh e salvar aquelas pessoas. O semideus era poderoso, influente e carismático. Sua expansão estava, aos olhos de seus seguidores, rendendo bons frutos muito rapidamente.   Em algum momento de sua estadia na cidade enquanto Niara imagina se não seria o momento apropriado de voltar para casa e ajudar seu pai na condução dos negócios de Mitrânia, Destino exerce seus caprichos, e a futura Deusa do Perdão encontra a futura Deusa da Noite .   Alguns registros alegam que o encontro se deu à noite, nas frias praias da cidade, há famosas canções de bardo, no entanto, que descrevem a conversa num mercado onde as duas teriam escolhido o mesmo produto do mesmo feirante. Há também a famosa pintura de Lucius na galeria de Arcania que mostra as duas entidades frente a frente numa bela e movimentada praça ao entardecer. É difícil saber qual dessas representações está certa, há acadêmicos que alegam que o fato de haver tantas versões diferentes deste momento se dá por um simples motivo: as duas teriam se encontrado mais de uma vez. De qualquer modo, até que a entidade se pronuncie sobre as circunstâncias exatas do ocorrido, podemos ter certeza apenas de uma coisa: Una e Niara se encontraram e tiveram uma longa conversa, muito provavelmente sem nenhuma hostilidade, tensão ou ameaça. Pouco tempo depois desse encontro, Una iria a Karonte tentar conversar com seu já corrompido irmão. Niara, por sua vez, iria até a Cordilheira das Auroras. Especula-se que sua decisão de Ir até a Cordilheira teria base no fato de que os seguidores leais a Yaroh eram muitos no litoral lemuriano, mas com certeza não seriam tão numerosos entre os sábios anillas. Sendo assim, uma resistência organizada ao tirano era mais provável se feita com o povo-do-ar.   Pegando um barco e contornando karonte para evitar conflitos diretos com Yaroh, Niara enfrenta fortes ventos e demora semanas para chegar aos portos anillas. Até hoje, a navegação naquelas águas é difícil, e muitos dizem que a própria Ambara desenhou os ventos em volta daquelas ilhas para proteger sua criação.   A futura Deusa do Perdão, no entanto, consegue chegar aos grandes portos das cordilheiras em segurança, onde é bem recebida por diversos comerciantes, pescadores e navegantes, muitos dos quais nunca haviam visto um lemuriano sulista em suas vidas. Niara rapidamente procura a liderança local para explicar seu intento, e descobre que os portos anillas, ao contrário de seus templos nas montanhas, tem uma estrutura de poder extremamente descentralizada. A Maga Branca então convoca todos os capitães, líderes e grandes comerciantes para um encontro a céu aberto, no qual ela falaria, para quem quisesse ouvir, sobre as atrocidades de Yaroh, e como ela pretendia combate-lo.   Batalha naval e sacrifício (342-343)   O magnetismo divino de Niara mobiliza o porto inteiro. Seu discurso inflama os anillas até então evasivos e omissos sobre os sequestros, saques e ataques perpetrados pelo tirano Yaroh até então. Muitos se voluntariam imediatamente para segui-la, financiá-la e abriga-la em seus barcos ou estabelecimentos. A resistência anilla já estava delineada.   É importante ressaltar que, nesta época, a divisão entre anillas templários (isolacionistas, tradicionalistas e conservadores) e navegantes (aventureiros, imaginativos e liberais) já era muito grande e que os eventos aqui relatados não tiveram quase nenhum envolvimento de grandes mestres anillas que viviam nos templos da cordilheira.   Os informantes de Yaroh nos portos anillas são rápidos para reportar a seu mestre sobre a “insolente” Maga Branca, e o tirano responde imediatamente e manda uma pequena, mas bem equipada frota para assassiná-la. Niara usa suas mais poderosas magias de proteção e os anillas conseguem, mesmo com um alto custo de vidas, derrotar os invasores).   Durante meses, este padrão se repetiu. Por um lado, Yaroh possuía muito mais barcos, armamentos e homens para gastar. Sua superioridade de recursos estava provavelmente em uma proporção de seis barcos para um. Por outro lado, os anillas tinha ajuda direta de Niara e seus seguidores (com curas e proteções fortíssimas) e seu domínio sobre seu elemento ar para afundar barcos inimigos.   Uma conjuração conjunta de elementalistas do ar pode afundar uma nau de grande porte em questão de minutos. Imagina-se que, mesmo havendo relativamente poucos anillas mago-combatentes entre os navegantes, havia um número suficiente para causar um grande estrago a um custo relativamente baixo de energia.   O principal motivo do eventual sucesso dessa resistência, no entanto, não foi a capacidade de afundar barcos, mas sim o incondicional perdão que sempre era oferecido aos derrotados. Ao final de cada batalha, por mais sangrenta que fosse, Niara sempre perdoaria seus inimigos, convidando-os a juntar-se à causa. Praticamente todos os mercenários, piratas, saqueadores e assassinos que sobreviviam aos embates encontravam a redenção.   Desmoralizado entre seus próprios seguidores, Yaroh então decide ver pessoalmente ao encontro de Niara, que pressente a aproximação d’O Corrompido pela sua vasta energia mágica, e reforça as proteções mágicas de seus seguidores e dos anillas quase até o ponto de exaustão.   O embate final entre Yaroh e a resistência possui diversas versões. Os magos-assassinos d’O Corrompido e os seguidores de Niara recebem maior destaque nos contos e poemas épicos mitranianos, enquanto os anillas elementalistas desempenham maior protagonismo nos tomos templários da Cordilheira das Auroras. Há canções nortenhas, ainda, que enfatizam os feitos dos ‘humanos livres’ que lutavam mais para escapar das garras d’O Tirano do que por adoração à futura Deusa do Perdão.   Existe apenas um ponto de convergência entre todas as narrativas deste confronto épico: Niara não enfrenta Yaroh diretamente, ela usa suas energias até a morte para curar e fortalecer seus aliados (tanto anillas quanto humanos).   O ato de usar até as últimas reservas de mana para fortalecer e curar aliados é até hoje chamado de “Benção Final”. Todo clérigo mitraniano, ao ser ungido, faz um juramento divino de que, para enfrentar as forças do caos, ele deve estar disposto a tal sacrifício. Este sacrifício por um povo que não era o seu tem um profundo impacto no moral dos anillas navegantes e humanos nortenhos, selando o destino da batalha e afetando o moral de anillas e humanos de uma maneira que apenas uma entidade divina poderia. Os magos-assassinos de Yaroh não conseguem vencer homens dispostos a morrer por uma causa justa (e carregando consigo uma fatia considerável da energia mágica doada no último suspiro de Niara).   Yaroh escapa covardemente da batalha quando se vê derrotado e humilhado. Já de volta em Karonte e quase sem energias, ele é morto pelos seus próprios ‘duques’ com o fogo negro que lhes ensinara.   Niara receberia um longo e digno funeral, sendo cremada no barco que usara para chegar às ilhas onde morrera. Depois da morte de Yaroh, o “Conselho” que assumiu o poder libertou todos os prisioneiros nas masmorras da fortaleza, aboliu o trabalho escravo em Karonte e na península, financiou a reconstrução de vários dos portos destruídos durante a guerra e aboliu o uso dos ritos e magias que O Tirano ensinara a seus seguidores.   Apesar de serem aparentemente generosas, essas medidas com certeza conservavam os corruptos traidores de Yaroh no poder sem custos pesados para o seu rico e intenso mercado de gemas.   Por incrível que pareça, os anillas monásticos não tomaram parte em nenhum momento do conflito. Há registros de alguns monges que teriam abandonado seus templos para juntar-se aos navegantes, mas são sempre casos isolados de indivíduos relativamente jovens, e que nunca mais seriam readmitidos em seus templos. Nenhum Grão-Mestre ou figura proeminente entre os templários se envolveria no evento, e tudo que temos é um singelo registro no diário do Grande Templo da Primeira Aurora que diz:  
Hoje perece a alma mais nobre que já velejou os mares. Que os cânticos do dia lhe prestem a devida homenagem.
  Pode parecer pouco diante de uma futura Deusa com tanta influência no mundo, mas temos que nos lembrar que os anillas monásticos continuam até os dias de hoje extremamente apáticos a acontecimentos fora de sua região ou que envolvam outras raças. A menção de Niara nos anais de um grande templo significa muito, principalmente se levarmos em consideração que deuses posteriores como Yao, Aurélia e Apoena sequer seriam citados nos dias de suas respectivas mortes.   Niara fizera uma longa peregrinação, protegera desconhecidos, perdoara até seus piores agressores e, no fim, daria sua vida para parar um tirano cuja opressão sequer chegara perto de afetar seu povo. A total ausência de ambição, egoísmo ou malícia na entidade lhe rendeu a única apoteose unânime à Unya.

Domínios e Valores

 

Senhora do Perdão

A chaga da ofensa só se fecha com o perdão e compaixão. Não importa qual sua origem. Aquele que cultiva vingança e raiva, cultiva a própria ruína.

Anunciadora da Cura

Os instrumento últimos no combate ao caos são o corpo vigoroso e o espírito são. Logo curá-los de seus traumas é ofício sagrado e indispensável.

Condutora dos Cânticos

A palavra é mortal, o canto é divino. A primeira é a ferramenta mundana para organizar o viver; o segundo é a ponte que eleva o espírito ao encontro dos Deuses.
Children